- Matheus P. Oliveira
Taxi Driver

Fonte: Imagem maissuperior.com
Solidão, alienação e desperdício: tudo isso pertence à vida de Travis Bickle, personagem criado engenhosamente por Paul Schrader, baseado inclusive, em sua própria personalidade conturbada. Identificando-se com a essência de Travis, Martin Scorsese resolve dirigir Taxi Driver, hoje cultuado por quase todos os fãs de cinema.
Travis Bickle é um taxista que guarda dentro de si uma certa repulsa pela escória das ruas e um desejo de "limpá-las". Seus desejos mudam quando Iris (Jodie Foster), uma prostituta de 12 anos, cruza seu caminho. Com a chance de fazer algo significante na vida, Travis decide tirá-la das ruas.
Toda a cidade é podre aos olhos de Travis. Em seu táxi, ele ronda por toda Nova York na alta madrugada, observando tudo o que há de decadente nela. Os variados planos que percorrem a cidade elucidam os aspectos mais putrefatos que nela habitam, com o intuito de reforçar o que Travis diz frequentemente em sua voz em over, soando como monólogos.
O poder da trilha sonora de Bernard Herrmann, na narrativa, ajuda na alternância entre os momentos de tensão e os de elegância (citando os que Betsy aparece). Ao passo em que o filme progride, ritmos diferentes são inseridos na trilha, antecipando um prelúdio trágico para Travis, que a cada dia, fica mais louco.
Travis é um homem obscuro e um ex-combatente do Vietnã(isso explica sua insônia), e tem muitas ideias insanas na cabeça, mas isso sempre se esvai quando Betsy (Cybill Shepherd), sua musa, surge. A única beleza no meio de todas as coisas ruins da cidade. O homem se transforma ao vê-la, tornando-se quase um poeta pelas palavras que expressa. Porém, ambos compartilham estilos diferentes e conversas diferentes. Travis expõe um tipo alienado, que constrasta frequentemente com o tipo "esclarecido" de Betsy, lembrando vagamente o caso de Patrícia e Michel, de Acossado.
Não demora muito para que Travis seja rejeitado, não devido a um desgaste no relacionamento, mas por um simples vacilo cometido. Numa espécie de "choque de realidade", Travis decide não desperdiçar mais a vida e resolve abandonar a vida monótona como taxista, adotando um gênio psicótico - refletido na rejeição crua de Betsy. Começa a planejar o assassinato de Palantine, eleito à presidência dos EUA, este que Betsy apoia no âmbito político.
Isto explica a mudança de opinião repentina de Travis quanto ao candidato Palantine, que de uma hora para outra, decide matá-lo. Na verdade, Travis mal conhece política e é totalmente desinformado sobre isso. A razão de antes tê-lo apoiado, foi para ficar mais próximo de Betsy, e já que isso não foi possível, sua decisão não poderia ter sido outra.
Partindo para o outro ponto da estória, em alguns olhares, Travis e Iris (a menina de 12 anos) sentiam que estavam desamparados e que precisavam da ajuda um do outro, pois ironicamente pertenciam também à escória das ruas. Se não fosse pela motivação de salvar Iris do mundo da prostituição, Travis se tornaria um assassino ou algo pior. É natural, mas essa é a sacada do roteiro de Schrader, pois pega um homem afetado pela desilusão, prestes a fazer uma besteira, e é surpreendido por uma transformação na sua jornada em um ato genuíno de altruísmo, rumo à redenção, concluída por uma sequência até hoje ambígua.
Ao entrarmos em um táxi, não imaginamos que o motorista pode estar tendo problemas com a mulher, ou que pode estar com um de seus filhos em coma no hospital. Vendo superficialmente, todas as pessoas são vazias, até tentarmos penetrar no íntimo delas. Travis Bickle é um exemplo disso, pois vemos e compreendemos sua profundidade em seus reflexivos monólogos enquanto vagueia solitário em seu táxi. Nós acompanhamos toda sua evolução, nós somos eternos passageiros dele, o vemos e o ouvimos, ao contrário dos demais, que só o veem como alguém para ligar o taxímetro ou para mudar a música no rádio.
DIREÇÃO: MARTIN SCORSESE
ROTEIRO: PAUL SCHRADER
ANO: 1976