- Leandro A. de Sousa
Silêncio - Uma provação para com a fé

Fonte imagem: AdoroCinema
Eu não sou uma pessoa religiosa. Quando eu era mais novo, fui a igreja católica; Fui batizado, fiz primeira comunhão, fiz crisma e no fim das contas minha cabeça borbulhava de tantas dúvidas que eu me sentia mal de estar ali. O lugar não me fazia mal, eu mesmo estava me fazendo sentir assim, eu não pertencia mais ali, eu estava me enganando e sabia que uma das soluções era seguir meu próprio caminho. Eu o fiz.
Atualmente, eu vejo que foi algo covarde, não o ato em si, mas sob as circunstâncias que eu decidi tomar. Ninguém pôs uma arma na minha cabeça e me obrigou a sair dali, eu simplesmente decidi sair pois tive medo de provar a mim mesmo que estava errado. Talvez se tivesse buscado mais conhecimento sobre minha própria religião, sobre seus fundamentos e valores, mas segui o caminho mais fácil. Alguns tentaram me levar de volta, outros me levar para outras religiões, mas não adiantou. Na minha cabeça, era algo que não fazia mais sentido e não tinha por quê eu voltar para lá.
Em Silêncio, novo filme do diretor Martin Scorsese, conhecemos a estória de dois padres jesuítas portugueses que tiveram seu mentor preso no Japão devido a uma prescrição que proibia o catolicismo ali. A resistência pela fé que nos é apresentada nos faz imaginar o que é realmente necessário para permanecer em uma religião. A angústia que sentimos por nunca obtermos uma real resposta para nossas dúvidas faz com que tendemos a nos desvencilhar ainda mais da fé. Isso se intensifica quando o mundo quer que nós façamos isso.
Ninguém nunca viu Deus, falou com ele ou o sentiu, fisicamente falando. A única coisa que mantém alguém preso a religião é a fé. Não há nenhum fundamento científico que prove a existência de Deus ou relato histórico.
A estória de Padre Rodrigues (Andrew Garfield) e de Padre Garupe (Adam Driver), nos dá um parâmetro do verdadeiro comprometimento a fé. Não importa a religião ou a crença, nenhuma religião deve ser usado apenas como um rótulo ou deve ser seguida por medo. Uma religião é um estilo de vida, você escolheu ela e deve seguir o que ela manda, caso discorde do que ela diz, você precisa pensar se realmente pertence a ela.
Não se muda uma religião que existe a 2 mil anos, isso é onírico, valores sempre serão seguidos. Em Silêncio, Padre Rodrigues por vezes se pergunta por que Deus permite tanto sofrimento para seu povo. O Silêncio para todas as suas perguntas só faz com que suas dúvidas aumentem mais e mais. A tortura não só física como psicológica faz com que ele se questione sobre esses próprios valores, aos poucos ele se pergunta se tudo aquilo valia a pena.
Há a culpa que ele carrega por saber que várias das mortes e atrocidades que estão sendo cometidas de certa forma é sua culpa e todo aquele pântano onde nada cresce que vai engolindo ele aos poucos. Eles machucam tanto o seu corpo que ele já não tem mais forças e nem fé. Ele já não aguentava mais carregar tanto dor por algo que já não parecia ter sentido. Sua fé fora tão abalada que ele precisou deixar ela para trás para que eles também não destruíssem seu espírito. Ele manteve essa dor durante o resto dos dias ali, a dor de seu corpo já não poder mais pertencer a algo que seu espirito ainda pertencia.
Claro, a religião, inclusive a católica já derramou sangue demais ao longo da história, isso nunca deve ser esquecido, mas precisamos sempre lembrar do sangue que fora e é derramado por ela. Fazer parte de uma religião é fazer um sacrifício do seu estilo mundano por acreditar em algo maior do que estamos vivendo. O corpo de Padre Rodrigues desistiu da sua fé, mas sua alma jamais o fizera, seu espirito ainda rezava a um Deus, mas o fazia em Silêncio.
NOME ORIGINAL: SILENCE
DIREÇÃO: MARTIN SCORSESE
ROTEIRO: MARTIN SCORSESE & JAY COCKS
ANO: 2016