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  • Leandro A. de Sousa

Ghost in the Shell - O que é ser humano?


Fonte (imagem): Coxinha Nerd

 

Quando pensamos no sentido da vida, sempre nos perguntamos qual o motivo de estarmos aqui - isso é óbvio. Só que talvez a melhor pergunta seria qual a importância de sermos o que somos. Os motivos de estarmos aqui podem ser vários - ou pode apenas não haver motivo algum. Nós podemos inventar um sentido para isso mas não podemos achar a resposta. No fim, temos que ter alguma importância de sermos o que somos; o amedrontador é pensar que não há essa importância também.

Em Ghost in the Shell conhecemos a Major Motoko, uma Agente que trabalha para o setor 9 e é quase inteiramente uma ciborgue, exceto pela sua alma (ou fantasma). Em uma conversa no elevador com seu colega Batô, Motoko lhe pergunta o seguinte: se um ser cibernético é capaz de produzir uma alma, então qual a importância de ser humano?

Ao longo do filme vivenciamos um verdadeiro devaneio por entre os diálogos cheios de questionamentos sobre a existência e a consciência humana. Ora, se Major tem uma alma, uma consciência e a capacidade de acumular conhecimento, então o que a diferencia de qualquer outro ser humano? Ser humano se resume apenas a fazermos parte de uma certa espécie?

Apesar de serem Ciborgues, eles tem a consciência de sua própria existência e são tratados como iguais entre nós humanos, mesmo não os sendo. A forma como esses temas são abordados no filme me lembra muito Westworld que com certeza tem um inspiração na obra. Até mesmo a cena de introdução mostrando a Major sendo criada que também me lembrou a forma como os robôs em Westworld são feitos. Para sermos quem somos, precisamos primeiro saber que estamos aqui, saber que existimos e questionar nosso ambiente a nossa volta. Sem isso, somos apenas uma casca vazia.

Uma das partes mais interessantes do filme é quando um motorista de caminhão de lixo tem memórias implantadas em sua mente fazendo assim que acreditasse piamente que tem uma esposa e uma filha. Quando ele é levado e delegacia e descobre que tudo não passa de uma farsa, ele não consegue aceitar e continua insistindo na mentira. A memória era parte de quem ele era e formava sua essência mesmo sendo uma mentira. Nessa cena, Batô diz que todas as informações que uma pessoa acumula durante a vida é apenas uma gota d'água em um oceano de informações. Não importa o quanto pensemos ou o quanto saibamos, sendo mentira ou não, sempre haverá mais.

Tudo se resume a informação, se temos a tecnologia ao nosso alcance iremos sempre recorrer a ela devido à facilidade, tanto de acesso quanto da aquisição de conhecimento. Só temos conhecimento de nossa própria existência porque algum dia alguém nos explicou que existíamos, nos disse o que é a vida e a morte. Para um criança é difícil entender ambos os conceitos, principalmente se tratando da morte, mas vamos crescendo e reunindo mais conhecimento até chegarmos a uma interpretação própria sobre tais assuntos. Usamos de várias ferramentas para ter mais informação, pois sempre terá mais e mais em lugares diferente. A grande rede é só mais um dos meios e devido a facilidade, sempre recorremos a ela.

Somos seres curiosos pois sempre necessitamos de resposta para tudo, se algo não tem uma resposta plausível, então nós a inventamos - assim como os gregos acreditavam que as estações do ano estavam ligadas à Deusa Deméter - e algum dia isso vira material de estudo. O que algum dia era religião se torna mitologia e aquilo que outrora fora uma das explicações para nossa existência se torna algo absurdo de se acreditar. Sempre precisamos ter algo no que acreditar para que tenhamos algum sentido na vida, não importa se a resposta for plausível ou absurda.

Para o motorista de caminhão de lixo, o sentido da sua vida eram suas falsas "esposa" e "filha", que lhe deram uma motivação e uma importância. Para se desvencilhar de algo assim era praticamente impossível, ele teve sua vida destruída. Pense em como seria acordar algum dia e descobrir que todas as pessoas que você conheceu na sua vida não existiram, foram apenas uma projeção programada para que você cumprisse alguma ordem inconscientemente.

Somos tudo o que sabemos. Nossa essência é baseada em nossos conhecimentos. Não somos capazes de realizar coisas oníricas como voar, assim como não somos capazes de erradicar a fome no mundo. Mas podemos aprender para que nos tornemos pessoas melhores ou simplesmente para que tenhamos alguma importância.

Tudo se baseia na informação.

DIREÇÃO: MAMORU OSHII

ROTEIRO: KAZUNORI ITÔ & MASAMUNE SHIROW

ANO: 1995

#Major #GhostInTheShell #Filmes

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