- Leandro A. de Sousa
O Babadook - O medo pertence a nós

Fonte (imagem): Guia da Semana
Nos últimos anos, os filmes de terror tem se resumido bastante aos famosos found footage. Filmes como A Bruxa de Blair popularizou o gênero e Atividade Paranormal o explodiu. Quando algo assim se torna popular demais, a qualidade do gênero (Terror) tende a decair e se tornar superficial. Filmes de terror ultimamente tem uma única e exclusiva função: dar susto. De fato, a tensão criada junto a atmosfera aterrorizante desses filmes dá medo, que é o principio básico do terror, mas cadê a estória? Onde estão os personagens interessantes? Por que eu não consigo mais lembrar desses filmes depois que eu termino de assistir?
Não, filmes de terror não servem somente para dar medo e susto. Para ser um filme de qualidade é preciso ir além do próprio gênero e nos deixar uma marca, algo no qual ficaremos pensando um dia, dois dias ou uma semana... pode até ser divertido, mas você simplesmente não vai mais querer ver de novo ou vai esquecer que assistiu.
The Babadook é um exemplo de filme de terror de qualidade, com um bom desenvolvimento, com personagens interessantes, com um subtexto rico, além de ser um filme incômodo.
Quando eu era criança, eu tinha uma dificuldade enorme de dormir sozinho. Minha mãe precisava ficar do meu lado até eu dormir. Esse medo se prolongou até meus 13 anos mais ou menos. Eu não tinha medo do escuro precisamente, eu tinha medo do meu quarto, era um lugar pequeno e amedrontador a noite. Eu preferia dormir no sofá da sala a dormir no meu quarto, tinha medo do que poderia me encurralar ali. Medo de criança ninguém entende, não faz sentido, mas todos nós vemos monstros nessa idade. O problema é quando um adulto também os vê, afinal, nós não podemos nos livrar deles.
O Babadook fala basicamente disso: Medo. Amélia (Essie Davis) é mãe do pequeno Samuel (Noah Wiseman). Ela perdeu seu marido em um acidente de carro quando este a levava ao hospital no momento em que Samuel estava prestes a nascer - essa é a primeira cena do filme, ela é muito bem feita e é bem objetiva, indo direto ao ponto. Somente os dois sobrevivem e Sam cresce sem pai.
Sam é uma criança criativa e muito engenhosa, porém problemática, tanto na escola quanto em casa, além de ser obcecado por monstros. Ele consegue desenvolver "armas" somente com algumas bugigangas que ele possui em casa para se defender desses monstros. A inocência de Sam, ironicamente, torna a atmosfera do filme ainda mais amedrontadora pois ela não é somente fruto de sua imaginação.
O primeiro ato do filme é de fato um drama um tanto melancólico e cheio de luto. O medo começa com mais de 30 minutos de filme quando somos apresentado a um livro que Samuel pede para sua mãe ler intitulado "Mr. Babadook", a partir daí a tensão e a atmosfera de terror começa.
O medo aqui não tem bem uma forma, ele faz parte e está dentro de Amélia e é evidente que o Babadook só é uma maneira desse medo se manifestar e transformá-la aos poucos. Sentir medo é algo natural do ser humano e nunca podemos nos livrar disso. Os monstros podem ter várias formas: um bandido armado, um cão raivoso, uma cobra venenosa, um boleto não pago etc.
É impossível não sentir medo e Amélia já não sentia mais nada além de dor pela perda do marido e cansaço pelo comportamento de Sam - este que sempre pedia para sua mãe olhar debaixo da cama para ver se tinham monstros, mas ela nunca olhou dentro dela.
O desenvolvimento do filme é amedrontador, você realmente sente medo com algumas cenas, como por exemplo, quando Amélia recebe de volta o livro "Mr. Babadook" todo remontado sendo que ela o havia rasgado e jogado no lixo. Agora o livro tinha cenas mostrando Amélia estrangulando Samuel e o cachorro deles (o cachorro, de fato, não tinha uma função muito relevante no filme, mas cenas forte com cachorros sempre me deixam mal) o medo e a tensão tanto dela quanto a do público aumenta, você fica ainda mais imerso na trama.

Fonte(imagem): Cine Mundo
Quando eu deixei de ter medo do meu quarto e passei a dormir sozinho sem problemas, senti como se estivesse liberto de um mal, mas como já disse, nunca nos livramos do medo. Muitas vezes eu o sentia ali comigo, seja de monstros ou de pessoas. Minha mãe me dizia que não existiam monstros e só as pessoas matavam umas as outras. Hoje eu entendo isso, mas interpreto de outra maneira.
O medo nos pertence, ele está conosco desde o dia em que nascemos até o dia em que morremos. Ele estava inerte em Amélia, mas ainda estava nela, pois assim como o Sr. Babadook, nós nunca poderemos nos livrar dele e o que nos resta é enfrentá-lo ou alimenta-lo, mas ele sempre estará no porão de nossas mentes esperando para sair.
Ba - Ba - dooook

Fonte(imagem): Blog do Ricardo Bernado
NOME ORIGINAL: THE BABADOOK
DIREÇÃO & ROTEIRO : JENNIFER KENT
ANO: 2014