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  • Leandro A. de Sousa

Fargo (2º Temporada) - Ninguém permanece inocente


Fonte (imagem): Pipoca e Nanquim

 

Criador: Noah Hawley

Elenco: Patrick Wilson, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Jean Smart, Jeffrey Donovan, Kieran Culkin, Bokeem Woodbine, Michael Hogan, Angus Sampson e Zahn McClarnon.

Ano de exibição: 2014 - Atualmente

A ideia de Mafia em meios de entretenimento como Cinema e TV me fascina. Filmes como O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros e Scarface são os meus favoritos do gênero. Na TV não há discussão, quando se fala de Máfia se fala de Os Sopranos. É simples, é O Poderoso Chefão da TV, você pode até não gostar (tudo bem estar errado) mas ela é sim a maior série já feita, pois foi ali onde tudo começou. Não há discussão.

O primeiro ano de Fargo é excelente, o segundo segue o mesmo caminho e é tão bom quanto. Dessa vez, estamos em tempos ainda mais hostis, mas ainda em Minnesota, no final dos anos 70. Fargo continua a mostrar a violência de forma visceral mantendo sempre seu humor negro cheio de cinismo. É tão insana quanto a primeira e assim como a mesma, estamos em um local onde ninguém permanece inocente, todos sujam suas mãos de sangue eventualmente, seja por interesses próprios ou simplesmente para sobreviver.

Somos apresentados aos Gerhardt, uma família de mafiosos de descendência alemã. São comandados por Otto Gerhardt (Michael Hogan) que logo no primeiro episódio sofre de um AVC e quem assume o comando da família é sua esposa Floyd Gerhardt (Jean Smart) que tem que enfrentar problemas com a máfia da Dakota do Norte. Entre os Gerhardt existem três filhos: Dodd (Jeffrey Donovan), Bear (Angus Sampson) e Rye (Kieran Culkin).

Na primeira temporada tínhamos o "inocente" Lester Nygaard, nessa temos o casal Ed (Jesse Plemons) e Peggy (Kirsten Dunst) Blomquist. Ed é um açougueiro e Peggy uma esteticista. Isso dura até o dia em que Rye Gerhardt decide ir até uma lanchonete matar uma juíza (como um favor a um dono de uma loja de máquinas de escrever), sair ferido e dar de cara com o para-brisa de Peggy, que o leva para casa assim mesmo. Claro que o desespero bateu nessa hora e ela não sabia o que fazer, mas convenhamos que há um certo "que" de insanidade por parte da mesma em levar um homem atropelado para casa daquela forma.

Em resumo: Rye, ferido e desnorteado, tenta atacar Ed, quando este o descobre em sua garagem, e acaba morto. A partir daí a vida dos dois vai de ladeira a baixo. Tentando a todo momento esconder sua culpa, logo ambos precisam lidar com os Gerhardt que acreditam que Ed é um assassino em série, chamado de "açougueiro" - muito conveniente. A tensão é construída baseada em um simples mal-entendido. Ambos não são inocentes, mas também não são assassinos, sujaram as mãos para sua própria sobrevivência e precisariam repetir novamente tais atos. Quanto mais eles negam o que fizeram e negam ajuda, mais próximo da morte os dois chegam.

Enquanto eles tentam esconder sua culpa, o caso da lanchonete está sendo investigado pelo policial Lou Solverson (Patrick Wilson) - "Solverson" esse sobrenome não lembra alguém? Um policial honesto e muito dedicado ao seu trabalho que tem uma esposa que sofre de Leucemia e uma filha de 6 anos. A dedicação de Solverson muitas vezes parece beirar a loucura como em cenas em que ele não demonstra medo algum em confrontar dois homens armados com escopetas. O seu trabalho é a sua vida e se preciso ambos acabariam juntos. A dedicação dele é notável a temporada inteira.

A tensão começa de verdade com o sumiço de Rye, os Gerhardt ficam procurando por ele por todos os lados. Nesse mesmo período a Mafia da Dakota do Norte oferece a eles uma proposta para comprar seus negócios e Dodd o filho mais velho e mais sangue quente propõe guerra e a tensão vai aumentando ainda mais. É interessante traçar alguns paralelos no conceito de guerra em Fargo.

Enquanto a Mulher do Policial Solverson, Betsy (Cristin Milloti), está em guerra contra o Câncer, Os Gerhardt estão em guerra com a Dakota do Norte e isso é muito bem expresso em uma cena onde Floyd decide de vez declarar guerra contra seus inimigos com uma frase simples e direta "é guerra". Nesse exato momento temos um corte para Betsy olhando para um medicamento novo que possivelmente pode ajudá-la a vencer essa guerra contra o câncer. Fica claro como guerra é só uma questão de perspectiva. Para Lou, guerra era o que ele viveu no Vietnã. Toda aquela loucura e atrocidade ao qual ele foi exposto e ao mesmo tempo acredita que a loucura do mundo adoeceu sua mulher; para os Gerhadt, era questão de honra pelo o que Dakota do Norte estava fazendo a sua família, os atacando e os humilhando a todo momento; para Betsy, era vencer o câncer e não deixar sua filha de 6 anos sem mãe.

Falando de um personagem em específico que eu particularmente gostei muito. Mike Milligan (Bokeem Woodbine) é um exemplo de "vilão" bem escrito, atuado e muito bem desenvolvido. Ele nos lembra Lorne Malvo por sua postura e sua habilidade com as palavras, é tão ameaçador quanto, porém não tão sádico. O trabalho sujo geralmente fica para os irmãos gêmeos calados que andam com ele sempre usando chapéu e tendo uma escopeta escondida debaixo do sobretudo. Milligan de fato parece um homem calmo na maior parte da temporada, mas não tem medo de sujar as mãos se for preciso. Não tem medo de emular o próprio demônio.

Outro personagem do tipo badass dessa temporada é Hanzee (Zahn McClarnon). Nesse caso ele lembra e muito o sadismo de Malvo e o fato de ser metódico e inteligente quando se trata de fazer o trabalho sujo. O fato dele ser um nativo americano nos proporciona cenas interessantes onde vemos o preconceito que lá havia (e ainda há) sobre esse povo, no caso de Hanzee, tal preconceito nunca fica barato. Ele pertence aos Gerhardt e é mais ligado a Dodd. Apesar disso, a falta de expressão do personagem, o fato de falar pouco e de ser tão metódico me fez desconfiar dele a todo momento e duvidar de seus verdadeiros interesses.

A fotografia de Fargo continua belíssima e agora usando um recurso muito bem colocado de dividir a tela para termos dois personagens praticando alguma ação onde eventualmente eles vão se encontrar - ou não. Também com esse recurso podemos ter uma visão mais ampla das múltiplas emoções que o mesmo personagem está tentando passar, ou mostra uma ação que ele praticou há alguns segundos antes em uma das telas e o que ele está fazendo em seguida em outra tela. Com esse recurso ficamos mais íntimo dele e mais imersos na cena e nas emoções do personagem. Também há belíssimos planos abertos onde conseguimos ter mais uma vez uma noção do local frio e isolado onde estamos, com aquela imensidão esbranquiçada. Um lugar frio e de solidão.

Sinceramente, eu não sei como Fargo ainda não explodiu. É uma das melhores coisas da TV atualmente, além de personagens incríveis, um roteiro muito bem escrito e trabalhado ela tem uma ótima trilha sonora. Eu fiquei ouvindo ela enquanto escrevia esse texto e senti como se estivesse flutuando nas nuvens. Além das músicas incríveis que, perdoem minha ignorância, eu não as conhecia e nem os artistas, mas precisei descobrir os nomes por trás delas depois de assistir a temporada.

A série exala a essência dos filmes dos Coen, principalmente por sua narrativa e seu humor negro. Ficamos nos questionando se o trabalho dos irmãos se limita somente a serem produtores executivos da série - particularmente eu duvido muito. Ainda sim, a segunda temporada tem ainda mais originalidade que a primeira. Veja bem, isso não é uma crítica, até porquê não há nada de errado em se inspirar em diretores como os Coen. Mas a primeira temporada tinha realmente muito de Onde os Fracos não têm vez misturada ao cenário do próprio filme Fargo dos irmãos. A segunda só pega o cenário, de resto tudo parece novo, algo que não vimos antes.

A terceira temporada de Fargo vai estrear nessa quarta-Feira. Depois de maratonar essas duas incríveis temporadas e saber que o fato de não ter tido uma terceira em 2016 foi devido ao criador não ter ideias me deixou ainda mais animado. Fargo está longe de ser uma série medíocre e se o criador não tem o que contar que leve um, dois, três, dez anos... mas que me dê algo tão insano, divertido e inteligente como Fargo é.

Junto a Mr. Robot e Game of Thrones, Fargo é uma das minha séries favoritas em exibição.

Assista agora, ou se arrependa depois.

Leia Aqui um texto sobre a Primeira Temporada de Fargo

#Fargo #Series #Coen #NoahHawley

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