- Leandro A. de Sousa
Insana, divertida e sangrenta - Fargo volta com tudo para seu terceiro ano
T03E01: The Law of Vacant Place

Direção & Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Ewan McGregor , Mary Elizabeth Winstead, David Thewlis e Carrie Coon
Data de lançamento do episódio: 19 de Abril de 2017
É interessante notar como nas duas temporadas anteriores de Fargo o mal entendido é um dos artifícios principais da narrativa para que a série tenha o seu desenvolvimento. Na primeira, se Lester não tivesse falado com Malvo naquele hospital, talvez as coisas não ficassem tão feias para o seu lado - ainda sim ficariam, de qualquer forma, mas talvez desse para esconder de uma forma melhor o que havia feito. Na Segunda, se Rye não tivesse ido naquela lanchonete e matado aquela juíza, Peggy não o teria atropelado, ele não acabaria morto e toda aquela confusão com os Gehardt talvez tivesse sido evitada.
Todos esses eventos citados aconteceram nos primeiros episódios de suas respectivas temporadas. Fargo já tem essa marca: Se for dar m*rda, isso vai acontecer no primeiro episódio da temporada. Na terceira não seria diferente.
A primeira cena do episódio diz bem a que Fargo veio ao longo de suas duas temporadas. A cena se passa na Alemanha Oriental em 1988 onde um oficial está interrogando um homem que está sendo acusado por assassinar sua própria esposa. É visível nos olhos dele sua inocência, mas ainda sim, ele não pode prová-la, pois segundo o próprio oficial, para ele estar certo, o Estado teria que estar errado. No final do diálogo, o oficial diz "não estamos aqui para contar histórias, estamos aqui para dizer a verdade." e então a câmera vai em direção a um quadro na parede e aos poucos vai subindo a trilha clássica de Fargo. O que vemos nessa cena é o que sempre vimos em duas temporada de Fargo: um inocente sendo culpado por algo que não fez devido ao um mal entendido.

Esta é uma história Real
Cronologicamente falando, a terceira temporada de Fargo é a mais recente, pois se passa em 2010 - a primeira se passa em 2006 e a Segunda em 1979. Como sempre, o local é o mesmo (Minnesota) e a narrativa é a mesma, temos aqueles diálogos carregados de ironia e humor - com o que supostamente não deveria ser levado no humor - o visual também é igual. O que muda são os personagens e as situações, mas a essência da série está ali.
No episódio somos apresentados aos irmãos gêmeos Stussy (Ambos interpretados pelo excelente Ewan McGregor). Aqui temos aquela velha história do irmão bem sucedido (Emit) e o malandro que sempre dá um jeitinho de se dar bem (Ray).
Ray vai pedir ao seu irmão dinheiro para comprar um anel para sua namorada Nikki (Mary Elizabeth Winstead), ao mesmo tempo que quer de voltar algo que pensa que Emit lhe deve, que seria um selo de grande valor que, segundo Ray, Emit o havia enganado para consegui-lo. A história de como Emit o conseguiu supostamente enganando Ray é um pouco confusa e custei a acreditar.
Fargo tem uma maneira interessante de ligar núcleos. Enquanto Ray planeja uma maneira de pegar o selo de Emit contratando um drogado - importante citar que Ray é um agente de condicional - conhecemos a chefe de policia Gloria (Carrie Coon) que é divorciada e tem um filho.
Quando o homem que Ray contratou para pegar o selo de Emit vai em direção ao seu serviço, ele perde o papel com o endereço e aí começa o mal entendido. Ele vai até uma loja de beira de estrada para ver na lista telefônica o endereço com o pouco que lembrava, confunde os nomes e acaba na casa do pai de Gloria onde ela estava há alguns minutos com ele comemorando o aniversário do filho dela.
É perfeito, tinha tudo para dar errado e com certeza dá, afinal, estamos falando de Fargo. O episódio nos entrega uma boa introdução do que estar por vir e ainda nos entrega duas mortes no mínimo bizarras. O homem que Ray contratou acaba prendendo o pai de Gloria em frente a geladeira aberta e em poucos minutos ele morre de hipotermia. Coincidentemente o filho dela havia esquecido o presente que o avô lhe dera e pede para a mãe para voltarem até lá para buscá-lo. E então o estrago já estava feito e a tensão começa.
A segunda morte bizarra que eu havia citado é muito bem feita e prefiro não descrevê-la nesse review pois acredito que seria no mínimo difícil achar as palavras certas para isso, mas também porque acredito que o impacto visual dela é muito maior do que qualquer descrição. Posso dizer que ela envolve um cálculo matemático, escadas, cigarro, uma camisa presa em um corrimão e um ar-condicionado - além de ser muito bem filmada. A forma como Fargo banaliza a violência em si me remete a algo meio 'Tarantinesco'. Você não se sente chocado vendo uma morte tão horrenda, pelo contrário, você ri, pois clima construído pela cena não permite que você faça outra coisa.
Pode-se dizer que Fargo voltou com força já nos dizendo tudo o que precisamos saber logo no primeiro episódio e daqui pra frente será aquele velho jogo que gato e rato que sempre foi, mas que adoramos e que nunca perde a graça, além de sempre ser feito de uma forma inteligente e original. Não canso de dizer que Fargo é uma das melhores coisas da TV atualmente e que você PRECISA ASSISTIR! AGORA!
Leia aqui um Review sobre o segundo episódio da terceira Temporada de Fargo.