- Leandro A. de Sousa
Review: Fargo (03x03) - Um belíssimo episódio
T03E03: The Law of Non-Contradiction

Direção: John Cameron
Roteiro: Matt Wolpert & Ben Nedivi
Elenco: Carrie Coon, Fred Melamed, Ray Wise, Scott Hylands, Rob McElhenney, Mark Forward, Roger V. Burton, Francesca Eastwood e Frances Fisher
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐
Fargo é uma série marcada por ser uma verdadeira comédia de erros onde todos estão expostos as mais diversas e controversas situações que muitas vezes são causadas por um simples mal-entendido. A humanidade dos personagens por vezes é apresentada de forma totalmente implícita, cabendo a nós espectadores tentarmos olhar nas entrelinhas da série para entender mais de cada um deles. A forma como o diretor John Cameron, junto aos roteiristas Matt Wolpert e Ben Nedivi e claro, Noah Hawley, decidiram contar a estória do terceiro episódio da terceira temporada de Fargo é talvez um tanto inusitado para o tom da série onde não temos em tela nenhum dos irmãos Stussy ou ninguém de seus respectivos arcos. O foco do episódio é na investigação de Gloria (Carrie Coon) para achar o culpado pelo assassinato de seu padrasto. Apesar de ser um episódio diferente do usual, ele é excelente e em uma leitura superficial, poderia ser tratado como algo somente para encher linguiça, mas definitivamente ele passa longe disso e vemos um dos episódios mais bonitos da série.
Se esse episódio estivesse nas mãos de algum Showrunner medíocre seria apenas um episódio para preencher lacuna, mas Noah Hawley não é um artista medíocre, assim como Fargo está longe de ser uma série ruim. O episódio consegue levantar questões sobre nossa própria existência e sobre a crueldade da indústria cinematográfica.
É interessante não só como a estória é contada como também o personagem principal dela é o próprio Ennis (Scott Hylands). Conhecemos o seu passado e a sua criação como artista. O episódio começa nos anos 70 mostrando Thaddeus Mobley (verdadeiro nome de Ennis) que acabava de receber um prêmio por seu livro de ficção científica "O Planeta Wyh". Logo ele é abordado por Howard Zimmerman (Fred Melamed), um produtor de cinema, que como um bom homem de negócios, chega gentilmente para oferecer a Thaddeus uma chance de transformar o seu livro em um longa.
Hollywood é uma indústria e como qualquer outra é um lugar cruel. Para sobreviver é preciso ter sorte ou esperteza, para o azar de Thaddeus, ele não tinha nenhum dos dois. Ele cede aos interesses de um homem que desde o começo tinha como intenção enganá-lo somente para usar sua criatividade. Azar de Thaddeus, sorte para nós. Isso acaba rendendo uma linda estória sobre um robozinho chamado Mynski.
Gloria vai até Los Angeles investigar mais a fundo o passado de Ennis para conseguir alguma possível pista sobre seu assassinato. Como espectadores, já sabemos que ela não vai achar nada relacionado ao caso pois já se sabe o que houve.
Fargo é uma das séries mais experimentais da atualidade sempre buscando novos meios para contar sua estórias e seus personagens. Nesse terceiro episódio, entre cenas e outras, conhecemos a história do simpático robozinho Mynski através de uma animação que mostra como ele caiu na Terra. Sendo apenas um protótipo, ainda estava inacabado e possuía uma personalidade totalmente inocente e pura podendo ser comparado a uma criança. Além de tudo, o robozinho vive repetindo três simples palavras: "Eu posso ajudar!".
A personalidade de Mynski pode ser remetida no seu próprio criador. Depois de Eras vagando pela Terra e após passar pelos mais diversos abusos que um ser inocente pode passar sem poder se defender, Mynski acompanha a destruição da espécie por seus próprios criadores, e após recolher tanta informação e conhecimento, ele volta para seu lugar de origem, ainda repetindo: "Eu posso ajudar!"
Thaddeus foi inocente e se deixou levar por prazeres mundanos para conseguir mais reconhecimento ou simplesmente aproveitar mais a vida, ser famoso e viver um grande amor. Infelizmente, foi abusado e usado devido a sua inocência diante de um mundo podre e uma indústria cruel.
Enquanto isso, o próprio Mynski pode nos ajudar a entender um pouco melhor a aversão de Gloria com a tecnologia quando ela, conversando com um homem em seu voo em direção a Los Angeles, não sabe afirmar se Mynski é realmente um robô. E também logo depois em uma conversa com um policial babaca que fica surpreso ao descobrir que ela não tem Facebook e para ela isso não é nada demais.
Gloria é, de longe, a personagem mais interessante dessa temporada, e o fato do terceiro episódio explorar alguém que fora tão próximo a ela mas que de um ponto de vista narrativo não parece ter grande relevância no desenrolar da estória, serve para conhecermos ainda mais essa incrível personagem. Espero que Carrie Coon exploda depois de participar de duas das melhores séries da atualidade. Se ela não conseguir, então será porque realmente Hollywood é um lugar cruel.
Leia Aqui um Review sobre o segundo episódio da terceira Temporada de Fargo.
Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Adora estudar sobre montagem, fotografia e mixagem de som, mas tem dificuldades de passar isso para um texto por medo de falar bobagem. Ainda explorando essa incrível sétima arte, mas tem uma ligação mais forte com as séries de TV. Aspirante a Crítico de Cinema e a escritor de Livros que provavelmente só vão ser conhecidos por seus amigos e familiares. Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor. Twitter: _leandro_sa Instagram: leandro.as
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