- Leandro A. de Sousa
Animais Noturnos - Uma história sobre frustração e vingança

Direção & Roteiro: Tom Ford
Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Isla Fisher, Ellie Bamber, Armie Hammer, Karl Glusman, Robert Aramayo, India Menuez, Andrea Riseborough, Michael Sheen, Jena Malone e Laura Linney.
Data de Lançamento:
29 de Dezembro de 2016 (Brasil)
23 de Novembro de 2016 (EUA)
Nome Original: Nocturnal Animals
Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐
A frustração pode ser uma das maiores fontes de criatividade para qualquer um que se diz um artista. Seja na música ou na pintura, todo artista está falando sobre si mesmo em determinada obra, falando para todos sobre seus pesares e seus medos, seus amores e sua decepções - decepção, talvez esse seja o ponto crucial do filme que este texto aborda. Animais Noturnos engloba tudo isso dentro de uma narrativa inteligente e completamente interpretativa em 3 linhas temporais (tendo uma fictícia) onde quem fala conosco muitas vezes é o cenário no qual esses personagens se encontram.
Susan (Adams) é uma mulher que um dia recebe de seu ex-marido (Gyllenhaal) um manuscrito de um livro intitulado "Animais Noturnos", nele é contada a estória de uma família que enquanto viajava de carro, foram atacados por alguns baderneiros na estrada e isto acabara em uma tragédia, a partir daí, temos basicamente uma estória de vingança. É notório pensar que estamos lendo o livro através de Susan e mais ainda pensar que ela personifica o personagem principal em sua mente como sendo o próprio Edward. E não só isso, o personagem em si é representação perfeita de Edward, um homem simples, não um lutador, não alguém que tenha facilidade de segurar uma arma e puxar um gatilho.
Devido a uma montagem excelente com passagens sutis - muitas vezes simbólica - e uma mixagem de som muito bem feita, a ficção se mistura com o real por diversas vezes e passamos a acreditar que o acontece em Animais Noturnos (o livro) faz parte da realidade daquele universo no qual Susan é uma artista não só frustrada, mas também infeliz. E ora, por que não faria?
O que se passa no livro pode muito bem remeter ao caos que a vida de Susan se tornou ao mesmo tempo que ela tenta negar isso para ela própria e para o mundo. Relacionamentos são extremamente complicados, e quando decidimos sair de um, um dos lados sempre irá sair mais ferido do que o outro. Edward é um homem sentimentalmente fraco e por isso não conseguiu superar o término com Susan, assim como na estória seu personagem não foi forte o suficiente para salvar sua esposa e filha. A vida de Susan oscila entre o amor e o luto (este último só nos é apresentado bem mais tarde no filme), e isso fica claro no trabalho de Design de Produção do longa onde as roupas da personagem estão, quase sempre, em tom de vermelho e preto - e cinza esbranquiçado quando esta está tentando dormir, talvez por estar buscando uma certa paz que nunca irá achar; e o azul, em certos momentos, representando uma profunda tristeza.
O mais importante do filme está no que é contado no livro e no que é contado sobre o relacionamento de Susan e Edward. Não é difícil abrir um parâmetro e comparar ambas "realidades" - não é a toa a escolha de Isla Fisher para fazer o papel da mulher de Tony no livro - e pensarmos que Susan pode ser os bandidos que matam a família de Tony e que o fato do mesmo enviar um livro com todo esse teor a abalaria tanto. Em uma diálogo Susan reclama que Edward escreve sobre si mesmo, em Animais Noturnos ele escreve sobre ela, sobre o que todo aquele término representou para ele e o filme não mede a sua capacidade de mostrar uma violência crua com cenas extremamente chocantes e outras que nos faz entender o porquê Edward escolhera um destino tão cruel para as duas personagens do livro (mãe e filha).
O que reforça ainda mais o arrependimento de Susan são elementos apresentados de forma bem claras e outras vezes nem tanto. O quadro escrito vingança em sua galeria e logo em seguida o susto que ela leva através do celular de uma de suas colegas (Malone) e em um diálogo ela decide não demitir uma funcionária pois acha que não é uma boa ideia fazer grandes mudanças. O medo de mudar toma conta dela após tudo que havia lido até aqui e quando chega no final, com um sinal de esperança ela tenta retomar tudo isso, mas assim como para Tony, isso não era mais possível, e não importava o que ambos fizessem, o passado estava no passado.
E como um sinal de esperança para um último encontro, Susan deixa de lado seus tons de Vermelho e Preto e adota um vestido verde e em um gesto ainda mais simbólico ela decide tirar o batom vermelho de seus lábios. Para o nossa surpresa Edward não aparece nesse encontro, talvez ele sequer tenha mandado aquele livro, talvez ele sequer o tenha escrito, talvez ele sequer exista (ok, isso é viajar um pouco demais). Mas apesar de um vestido verde e de um lábio desprovido de um batom vermelho forte e quente, ainda havia o azul dos olhos de Susan, aonde ele guardara sua tristeza.
Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Adora estudar sobre montagem, fotografia e mixagem de som, mas tem dificuldades de passar isso para um texto por medo de falar bobagem. Ainda explorando essa incrível sétima arte, mas tem uma ligação mais forte com as séries de TV. Aspirante a Crítico de Cinema e a escritor de Livros que provavelmente só vão ser conhecidos por seus amigos e familiares. Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor. Twitter: _leandro_sa Instagram: leandro.as