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  • Matheus P. Oliveira

Boyhood - Da Infância à Juventude (2014)


Direção e Roteiro

Richard Linklater

Elenco

Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Lorelei Linklater e Ethan Hawke

Data de Lançamento

30 de Outubro de 2014 (Brasil)

19 de Janeiro de 2014 (EUA)

Nome Original

Boyhood

Nota

⭐⭐⭐⭐

 

Ainda em 2015 eu não ligava para a cerimônia do óscar, sempre ouvia de terceiros o nome dos indicados e dos respectivos vencedores - ou seja, o evento não era grande coisa para mim, e eu só ficava sabendo de tudo meses depois. Ocasionalmente, antes da cerimônia, o nome "Boyhood" havia aparecido para mim como um zumbido, junto com o comentário de que ele tinha sido filmado ao longo de 12 anos - a princípio era algo peculiar de se ouvir. Eu, com um comentário no mínimo ignorante, disse: "Acho que isso é meio desnecessário, fazer o filme por 12 anos, aposto que é só para ganhar o óscar". Claramente eu estava equivocado, Boyhood é um dos melhores filmes desse século.

E é claro, o fato de Boyhood ter sido filmado por 12 longos anos, além de ser uma jogada ambiciosa do diretor Linklater, é o principal fator que o põe na posição de um dos melhores do século - como foi dito antes. Muitos no início diziam que se tratava de um recurso apelativo para ganhar público e óscar. Isso era evidentemente uma tremenda besteira, pois ver os atores envelhecendo com seus personagens é uma experiência única no Cinema.

Da primeira à última cena, acreditamos cegamente nos sentimentos dos personagens, torcemos por suas ambições e lamentamos suas frustrações, e quando se percebe, estamos vendo nossas vidas em tela. Há momentos em que dizemos: "Nossa! Como eu lembro desse momento!". Isso só acontece graças à sinceridade que Linklater transcreve para o seu roteiro a sensibilidade humana (a sua compreensão para com a juventude é mais que perceptível). Filmes como Slacker (1991), Jovens, loucos e rebeldes (1993), Antes do Amanhecer (1995) e Waking Life (2001) já revelavam uma notável habilidade em transmitir a natureza humana em discursos às vezes triviais, mas que por dentro contendo uma carga filosófica sobre a vida. Em Boyhood, Linklater consegue se superar nesse aspecto, pois ele não apenas insere filosofias de vida, mas cria a Vida em seu filme.

Traçando um paralelo entre seus outros longas, Boyhood parte do embate "conduta versus rebeldia" de Jovens, loucos e rebeldes, à filosofia de Waking Life. Porém, para que não fique confuso, Boyhood é a junção de todos os longas anteriores de Linklater e ao mesmo tempo é diferente de todos. Sua trama é simples, quase nula, porque nele vemos fatias da vida de diversos personagens, e um deles é Mason Jr. (Coltrane) - o principal.

Quando assistimos Boyhood, diremos de primeira que ele é sobre a vida de Mason Jr. ou de sua mãe (Arquette) ou de seu pai (Hawke) - o que é mentira. Ele, na verdade, é um filme que aborda a infância conturbada de Mason Jr. (mãe que sempre fica com maridos abusivos, pai que apesar de ser um cara bacana, não tem maturidade etc.), revelando dezenas de fatores que poderiam contribuir para sua juventude ser cheia de rebeldia, mas que se conclui com uma antítese, ou seja, Mason Jr. se torna um rapaz muito simpático e muito tranquilo. E como diz o início da canção Yellow, as estrelas brilharam para ele e para tudo o que ele fez.

É interessante, inclusive, notar como Olívia e Mason (pais de Mason Jr.) mudam ao longo do filme. Olívia, como uma mãe inexperiente, começa a fazer faculdade e em seguida leciona; Mason, um pai imaturo que não tem emprego e só tem em mente a criação de uma banda, mais à frente muda de pensamento e se torna um homem totalmente diferente. Os dois tem algo em comum: uma personalidade fortíssima, e nisso Mason Jr. puxou.

Acompanhamos Mason Jr. pelas fases de sua vida, e ao assistir quase 3 horas de filme, notamos que o conhecemos muito mais do que ele próprio se conhece - passamos a ter simpatia pelo rapaz. Mason Jr. passa pelo primário, pela mudança de casa e de colégio, ganha um padrasto, deixa o cabelo crescer, começa a dar uns beijos, bebe, fuma, ganha outro padrasto, põe brincos, descobre o fascínio por fotografia, se forma, e por fim, chega à faculdade. Quando chegamos a esse último estágio, parece ter passado uma eternidade e nos vemos nessa linha temporal chamada Vida. Com isso aproxima-se o sentimento de emoção ao testemunhar o crescimento de alguém que vimos bem pequenino, pulando numa cama elástica ou brincando em um balanço.

Nos últimos minutos do filme, uma menina diz o seguinte: "Sabe quando dizem 'aproveite o momento'? Acho que é ao contrário, o momento nos aproveita". Mason Jr. concorda com ela e diz: "Sim, ele é constante, porque sempre é o agora". E eu concordo com esse ponto de vista, não só concordo como comprovo através desse filme, pois ele faz isso conosco. Boyhood são momentos constantes que nos aproveitam e fazem com que cada segundo seja um momento válido. Olhamos para trás e vemos uma imensidão de experiências e lembranças absorvidas, e quando o filme mostra um pôr-do-Sol no fim, percebemos a imensidão que ainda há de vir e a 'montanha' de experiências que ainda vão chegar, e que farão jus ao significado do que é a Vida, algo constante e cheia de momentos que devem ser aproveitados.

Boyhood é a vida.

Sobre o Autor:

Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspiração o crítico Roger Ebert e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras as artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.

Twitter: mathp_oliveira

Instagram: mathp_oliveira

#Boyhood

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