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  • Matheus P. Oliveira

Platoon (1986) - A obra-prima de Oliver Stone


Direção e Roteiro 

Oliver Stone

Elenco 

Charlie Sheen, Willem Dafoe, Tom Berenger, Forest Whitaker, Johnny Depp

Data de Lançamento 

19 de Dezembro de 1986 (Mundial)

27 de Fevereiro de 1987 (Brasil)

Nota

⭐⭐⭐⭐⭐

 

Na Guerra do Vietnã, restou para o povo vietnamita apenas a desolação por terem perdido suas casas, pessoas queridas e a esperança pela humanidade; e para os estadunidenses, a profunda reflexão por terem causado um cataclismo que gerou comoção por todo o mundo. Seguido disso, nos Estados Unidos,  pessoas adeptas ao Pacifismo pediam o fim da Guerra, e a chamada "contracultura" ganhava força. Nesse meio, o Cinema também se incluía, e filmes como O Franco Atirador, Amargo Regresso e Apocalypse Now apareciam nos holofotes, renovando o termo "anti-guerra". E Platoon, apesar de ter sido lançado muitos anos após o término da Guerra, é, até hoje, o filme mais maduro e mais "pé no chão" sobre esta guerra.

Logo de cara, Oliver Stone nos presenteia com uma descarada contradição, apresentada pela citação dos Eclesiásticos que diz: "Jovem, alegra-te na tua juventude". Ou seja, como os jovens aproveitarão a juventude se foram obrigados a se alistarem? Na primeira cena do filme, a contradição dessa frase ganha força quando vemos novos soldados desembarcando no Vietnã.

O filme é contado pelas reflexões de Chris Taylor (Sheen), um jovem soldado que é cercado de dúvidas sobre o conflito em que está metido. As reflexões, além de se parecerem com as do Capitão Willard, de Apocalypse Now, também servem ao mesmo propósito: escrachar a gigantesca incoerência da Guerra do Vietnã. "Platoon" é baseado nas próprias experiências de diretor, que por sinal lutou na Guerra do Vietnã, e por isso, vemos claramente seu alter-ego no soldado Taylor, que é cheio de dúvidas, medos e de inexperiência. Mas uma coisa é certa, apesar de tudo o que há de ruim na guerra, ela ensina ao homem algo indispensável: a Bravura.

Taylor conhece sua bravura, que é também o seu outro lado.

E falando em lados, o filme introduz, não claramente, a alegoria entre o Bem e o Mal, e nele, há dois personagens bastante antagônicos que pertencem a diferentes pelotões (e à essas duas forças), são eles: Barnes (Berenger) e Elias (Dafoe). Barnes é aquele tipo de homem que se contaminou com a ruindade da Guerra e acabou se tornando um homem mal, já Elias, um idealista, é iludido com a utopia que preza os bons modos. Elias, para os novatos, é como se fosse uma figura "messiânica". Você sente que eles, apesar de não falarem nada, gostam da sua presença e de seu moralismo, pois apesar de o clima de selvageria, existe humanidade no coração de cada um, por mais que ela esteja coberta por uma grande quantidade de poeira.

Por mais que sintamos, em muitos momentos, indignação com as atitudes de Barnes, é complicado apontá-lo como o câncer da Guerra (existem outros para apontarmos o dedo), pois ele também é um ser humano, e teve suas razões para se tornar um ser desprezível. E, ao julgá-lo por sua aparência, suas cicatrizes no rosto mostram muito mais do que feridas, mas o horror que ele presenciou. Talvez teve de aguentar estilhaços de bombas, disparos de metralhadoras, explosões de granadas e todo tipo de horror - logo, não é de se admirar que Barnes tenha se transformado em um homem cruel. Na guerra, uns tornam-se pacíficos, outros tornam-se tiranos, e é aí que a mensagem de "Platoon" é captada, pois ele não trata todos os soldados da mesma forma, como marionetes, ele os trata como humanos dotados de sentimentos, e se tem algo que é certo, é que cada humano é dotado de diferentes virtudes e complexidades. Talvez "Platoon" mostre que não devemos ser iguais à barbárie, mas sermos superiores a ela.

O fato de "Platoon" ter um personagem como Elias é para mostrar ao espectador que não se deve apenas agir com o ódio na guerra, mas lutar para sobreviver, e isso requer, às vezes, companheirismo, e segundo o que diz um militar no documentário "Corações e Mentes", "a guerra torna a vida mais simples, pois nela só temos que se preocupar se sairemos vivos ou mortos". Willem Dafoe interpreta brilhantemente um homem com essa filosofia.

Após a belíssima sequência em "tracking shot" de Elias contra-atacando os vietcongues, Elias termina sua jornada como uma espécie de mártir, e Barnes, evidentemente, como um Judas - eu gosto dessa alegoria.

Há uma sequência em Nascido Para Matar onde é citada a "dualidade do homem", referência à ideia de Jung. Sem dúvida, "Platoon" e "Nascido Para Matar" expõem essa ideia e sua natureza, mas é o filme de Stone que escancara definitivamente o "homem da paz" e o "homem da guerra" e proximidade de ambos - tal como o "amor" e o "ódio" que andam lado a lado. O soldado Taylor, que de rapaz inexperiente e inofensivo, transforma-se em um homem forte e destemido. No início víamos o homem da paz e no fim, conhecemos o homem da guerra. Taylor recebe a nobreza de Elias e a bravura de Barnes. 

Diferente de muitos filmes, "Platoon" leva o conflito à nível interno, pois não enxergamos o Presidente como inimigo nº 1 (digo isso no sentido dele ser um dos responsáveis por criar esse conflito), mas sim os próprios soldados que acompanhamos. Aqueles homens, que mesmo jogados na mesma desgraça, ainda insistem em se voltar contra eles próprios - Barnes é esse tipo de homem.

Inclusive, a desilusão entre o que a guerra "parecia ser" e o que ela "realmente é" também encontra-se nesse filme e podem lembrar vagamente as chocantes descobertas de Florya, do longa soviético Vá e Veja (1985). 

Oliver Stone juntou quatro grandes detalhes que fazem de seu filme uma obra-prima: a dualidade do homem, o combate entre o Bem e o Mal, a filosofia da guerra e o clássico desenvolvimento do herói que se torna um mártir e do vilão que sucumbe a uma traição. E além de fazer duras críticas à Guerra, "Platoon" mantém-se atual por seu profundo estudo sobre a natureza humana, aquela natureza de instinto selvagem a qual já conhecemos.

Nos anos 70, "O Franco Atirador" nos mostrou o que a guerra prejudica de forma física e psicológica os ex-combatentes, e em "Apocalypse Now", Coppola recriou o que seria a experiência do Vietnã, misturando alegorias literárias e elementos surreais para nos imergir na sua estória. Porém, foi "Platoon" que mostrou a realidade nua e crua do Vietnã - camponeses tendo suas casas queimadas só por serem associados aos vietcongues ou apenas por falarem uma língua diferente. Vendo imagens, documentários e filmes sobre esta guerra, a cada momento eu me convenço mais e mais de que ela foi o efeito de uma ideia equivocada e absurda.

Sobre o Autor:

Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo  o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspiração o crítico Roger Ebert e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras as artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes. 

Twitter: mathp_oliveira

Instagram: mathp_oliveira

#Platoon #OliverStone

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