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  • Leandro A. de Sousa

Crítica | O Mínimo Para Viver (2017)


Direção e Roteiro 

Marti Noxon

Elenco

Lily Collins,  Keanu Reeves, Carrie Preston, Liana Liberato, Alanna Ubach, Kathryn Prescott, Ciara Bravo, Lili Taylor, Brooke Smith, Retta, Alex Sharp, Maya Eshet, Hana Hayes, Joanna Sanchez, Alanna Ubach, Rebekah Kennedy e Michael B. Silver.

Data de Lançamento

14 de Julho de 2017 (Mundial)

Nome Original 

To The Bone

Nota

⭐⭐⭐⭐

 

A primeira cena de O Mínimo Para Viver mostra um enquadramento em um corredor enquanto duas figuras vem em direção à câmera, então, temos um corte para um grupo de garotas em uma mesa fazendo recortes como se estivessem preparando um trabalho escolar e uma delas está reclamando sobre meninas que falam o quanto são felizes com sua dieta e que não aguenta mais aquilo, logo em seguida Ellen (Collins) diz que não adianta culpar o mundo pela doença dela e que ela precisava aceitar.

É no mínimo irônico pensarmos nessa obra não como uma lição que tem como objetivo nos mostrar todos os horrores da bulimia ou como um filme trágico onde temos apenas dois finais possíveis: a morte da personagem ou a superação da doença. Na verdade, eu diria que O Minimo Para Viver é apenas uma forma de olharmos essa doença e vermos que quem está daquele lado sofrendo com tudo aquilo, ainda tem sonhos e tem uma vida. Além disso, temos uma visão otimista perante esse distúrbio que muitos passam.

Doenças como a depressão, por exemplo, são plenamente mal compreendidas pela sociedade, que muitas vezes não a reconhece como um verdadeiro problema ou simplesmente não quer se deixar compreendê-la. Seria fácil dizer para uma pessoa que está totalmente destruída por dentro para que se levantasse de manhã e fosse aproveitar o dia, pois ele está lindo e ela não tem motivos para estar triste. Mas não podemos dizer para uma pessoa com Câncer para ela simplesmente mandar suas células pararem de matar umas as outras, pois ela está morrendo devido a isso.

Para quem não possui nenhuma dessas doenças - assim como eu - é um exercício de humildade tentar se colocar no lugar daqueles que acordam todos os dias não querendo acordar. Assim como um depressivo não pode deixar de ficar triste, uma pessoa com bulimia não pode simplesmente comer.

O Mínimo Para Viver conta a estória (ou seria História, se considerarmos que isso acontece no mundo real todos os dias?) de Ellen, uma garota que sofre de bulimia e que não tem vontade alguma de combater essa doença - mas isso na verdade nem precisaria ficar claro, pois na maioria dos casos, quem possui tal doença, não a reconhece ou não acha que precise de tratamento, e isso fica bem ilustrado quando a madrasta de Ellen resolve pesar a garota e depois tira uma foto para mostrar a ela e a pergunta se ela acha aquilo tudo bonito, a resposta logicamente é não, contudo, ela não demonstra se importar com a estética de seu corpo.

Mas o filme se sustenta por meio de diálogos que muitas vezes podem ser verdadeiros tapas nas nossas caras. Alguns por conta de uma verdade dolorida que a conhecemos e a negamos, outros por conta da ignorância (ou inocência, por que não?) dos personagens. Duas cenas em especial demonstram bem isso: quando Ellen e Kelly (Liberato) estão em um morro bebendo e essa primeira diz que está no controle, em seguida, Kelly diz que muitas pessoas que estão prestes a morrer dizem a mesma coisa; vemos também, em uma reunião familiar com membros da família de Ellen junto ao Dr. William (Reeves), uma imensa metalinguagem com a realidade, onde há um momento no qual Ellen deve pedir desculpas por ter se tornado um problema e novamente vemos um pouco dessa inocência desse grupo quando Kelly diz que ela simplesmente deve comer.

É de fato incômodo quando tentamos entender uma doença como essa sem conhecer ou ter passado por algo parecido. Infelizmente o que acontece muito além do desprezo e falácias em relação a elas, é a romantização, onde temos como exemplo, pessoas dizendo que sofrem de ansiedade sem ao menos saber o que ansiedade realmente significa ou conhecer alguém que sofra do problema. Em O Mínimo Para Viver, não vemos essa romantização ou tom trágico diante dessa situação, mas pelo contrário, vemos uma narrativa que tem como objetivo demonstrar otimismo, personificado por Luke (Sharp), que após fraturar o joelho e ficar impossibilitado de praticar balé, começa a sofrer do transtorno.

E através de Luke, ainda podemos conhecer um pouco de uma suposta fama de Ellen no Tumblr, onde ela fazia postagens relacionadas a sua doença, o que por fim acabara culminando no suicídio de outra garota que dedicou suas cartas de suicídio à ela. Não nos é apresentados tais cenas, mas fica claro como esses eventos não só enfraqueceram Ellen, mas também sua vontade de combater a doença, onde, por tabela, enfraqueceram sua vontade de viver. E é ainda mais interessante se percebermos que essa fraqueza está muito bem representada no filme pelo constante uso do amarelo, que além de representar a alegria, pode igualmente representar a fraqueza e o medo.

O filme tem a função não só invocar sentimentos  de empatia, ele também nos mostra como alguém que passa por essas doenças perde o auto controle de suas vidas e preferem assim, apenas ver a deterioração de seus corpos sem reconhecer que aquilo aos poucos está matando elas por dentro. É mais fácil para elas que esse processo auto destrutivo continue do que encarar a realidade. E não veja isso como uma crítica a quem passa por tal doença, pois esse aspecto faz parte dela como fica claro no filme. Talvez a transparência em nossas palavras não confortem a quem passa pela situação, mas ao menos as faz enxergar a realidade. Assim vemos como Dr. William tem esse papel na estória, de mostrar para as pessoas que estão passando por essa dolorosa enfermidade, que muito além de seus corpos, também afeta suas almas. E é interessante se pensarmos no diálogo onde Eli (nome que Ellen decide adotar em certo ponto da narrativa) faz questionamentos sobre a vida pessoal de William, e as respostas remetem exatamente a vida real do ator Keanu Reeves, onde talvez, ele seja de longe, a escolha mais acertada do elenco.

Mas isso não quer dizer que as outras sejam ruins, o trabalho que Collins emprega em sua personagem torna-se admirável ao ponto de acreditarmos que a atriz realmente passa por todos aqueles problemas, não só por seu rosto esbelto e expressões cansadas por parte da mesma, que só demonstram ainda mais a exaustidão de ter que repetir os mesmos procedimentos várias e várias vezes - e suas sobrancelhas grossas ainda ajudam para conferir um visual de rebeldia à personagem.

O filme acaba se tornando mais interessante com o passar do tempo, apesar de tentar empurrar na narrativa um romance no mínimo bobo entre Eli e Luke, que em nada agrega à estória e a impressão que dá é que aquilo foi feito apenas como um certo apelo sentimental para que Luke tenha uma demasiada complexidade desnecessária devido ao fato disso servir para conhecermos ele melhor, o que é bobagem, pois isso poderia ter sido feito de forma mais orgânica dentro da estória. E ainda nos leva à cenas desconexas da tram, como o passeio que William promove para o restante dos pacientes, a cena começa e acaba sem ter dado impacto algum, tendo ainda o apoio de uma trilha que se formos modestos podemos dizer que é bem "qualquer coisa".

A direção que Noxon pôs em O Mínimo Para Viver é fluída, agradável e que se recupera mesmo quando o filme tropeça. O roteiro nos remete ao que sabemos sobre esse tipo de doença e pode até mesmo servir como uma lição didática sobre ela. O filme não é visceral, ele não tem como intenção chocar, apesar de ter cenas como as que elucidei nos parágrafos anteriores, que podem ser ditas como "socos no estômago". A verdade é que O Mínimo Para Viver olha para essa doença com otimismo, como algo que pode ser superado e que deve ser, e assim é o desfecho do filme. A luta nunca acaba e você nunca pode se dar por vencido. Se apoie naqueles que te amam e saiba que você é muito maior do que essa doença e que assim como todos, tem com quem contar.

Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Adora estudar sobre montagem, fotografia e mixagem de som, mas tem dificuldades de passar isso para um texto por medo de falar bobagem. Ainda explorando essa incrível sétima arte, mas tem uma ligação mais forte com as séries de TV. Aspirante a Crítico de Cinema e a escritor de Livros que provavelmente só vão ser conhecidos por seus amigos e familiares. Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor.

Twitter: _leandro_sa

Instagram: leandro.as

#ToTheBone #Collins #Reeves

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