- Matheus P. Oliveira
Crítica | Em Ritmo de Fuga (2017)

Direção e Roteiro
Edgar Wright
Elenco
Ansel Elgort, Kevin Spacey, Lily James, Jon Bernthal, Eiza González, Jon Hamm e Jamie Foxx
Data de Lançamento
27 de Julho de 2017 (Brasil)
28 de Julho de 2017 (EUA)
Nome Original
Baby Driver
Nota
⭐⭐⭐⭐⭐

É verdade, eu já vi filmes parecidos como Em Ritmo de Fuga antes. A premissa "motorista que serve como piloto de fuga para bandidos" já não é mais novidade no Cinema (Drive, de 2011, é um exemplo recente disso).
E mesmo eu tendo dito que essa premissa "já não é mais novidade", do que mais se beneficia Em Ritmo de Fuga são justamente as "novidades", isto é, não por sua narrativa, mas por sua direção e, sobretudo, pela característica peculiar do protagonista (Baby), esta que acaba entregando um estilo único ao filme - afinal, trata-se do mesmo diretor da Trilogia do Cornetto.
Pois bem, vamos ao texto propriamente dito...
No enredo, temos Baby (Elgort), o tal piloto de fuga, igual ao que tivemos em Drive, de Nicolas Refn. A princípio, há duas características que estabelecem um abismo entre ambos os filmes: atmosfera e estética. Enquanto que Drive aparentava ser melancólico, lento (positivamente falando) e, às vezes, sombrio (detalhe que combinava com seu protagonista, um homem notívago), Em Ritmo de Fuga, por sua vez, é divertido em seu clima, frenético e, acima de tudo, estiloso (como os close-ups que simplificam e enfatizam algumas sequências, detalhe comum em filmes anteriores de Edgar Wright).
Refn inicia seu filme à noite, revelando a vida dupla que o motorista (Gosling) possui; Wright inicia o seu à luz do dia, em um roubo a banco, mostrando para nós que posteriormente teremos ação. Ou seja, a premissa de ambos são bem convencionais, mas são diferentes em suas particularidades.
Edgar Wright abre seu filme com uma cena de quase 6 minutos de duração (esta que, inclusive, foi liberada na internet). E essa cena é interessante, porque não começa com nenhuma cerimônia (ela vai direto ao ponto). Nela, um carro vermelho estaciona em frente a um banco e uma música de suspense começa, justamente para dar aquele clima pesado de assalto; no plano seguinte, aparece um iPod com um fone, o qual se encontra nos ouvidos de Baby; ele põe uma música no iPod - o suspense anterior acaba e um senso de energia e violência iminente começa, como se estivéssemos jogando GTA (a localidade do filme ajuda a ter essa noção). Mais interessante ainda é o fato da música começar diegética (fazendo parte apenas dos ouvidos de Baby) e logo depois, se transformar na própria trilha do filme, isto é, em extra-diegética. Aliás, a característica peculiar de Baby é o que traz originalidade ao filme (ele precisa ouvir música o tempo inteiro para abafar um zumbido em seu ouvido, causado por um acidente de carro), pois com isso, Edgar Wright tem pretexto para usar e abusar das músicas em seu filme, transformando-o em um videoclipe (ou um longo trailer). As músicas, aqui, parecem ser mais orgânicas do que em qualquer outro longa.
Aliás, continuando a última linha deste parágrafo anterior, o que eu notei nesse filme, diferente de outros, é que ele se assemelha demasiadamente aos seus trailers, na questão de ritmo. Em quaisquer detalhes, notamos uma sincronia entre som e imagem (seja em um bater de porta-malas, seja em um piscar de olhos ou até mesmo numa sequência de tiros) - eu me divertia ao perceber isso e me impressionava ao saber que uma mente pensava em tudo aquilo. Acredito eu, que neste filme, Edgar Wright tenha achado a fórmula perfeita para encaixar todos os seus estilos cinematográficos, porque vejam bem: close-ups e ritmos sonoros combinam demais com filmes de carro! E ao contrário dos filmes anteriores (Por um punhado de dedos, Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso), Em Ritmo de Fuga foge das paródias, apenas transformando Edgar Wright em mais um diretor a fazer um filme de piloto de fuga - o que não é um ponto negativo, porque o seu estilo difere o de muitos outros, fazendo-o funcionar, inclusive, melhor do que todos os longas atuais da franquia Velozes e Furiosos.
E no que diz respeito à figura de Baby como motorista, pode-se dizer que ela convence. A partir do momento em que o vemos atrás do volante, sentimos sua implacabilidade, como se dirigindo, tudo para ele fosse possível. O que comprova isto é o fato de que quando Baby aparece fora de um carro, sua fraqueza torna-se visível. Há um detalhe sobre a música, mas também relacionado ao Baby, é que a trilha sonora do filme corresponde ao seu humor. Quando feliz, toca uma música alegre; quando triste, toca uma música de baixo astral. Desse modo, é como se ela se tornasse um personagem do filme - ainda mais quando a ligação entre a letra das músicas estabelecem uma conexão entre Baby e Debora (sua namorada, interpretada por Lilly James), tornando tudo mais casual. Por exemplo, Debora sempre chega em seu local de trabalho (uma lanchonete) cantando uma música chamada "B-A-B-Y", justamente o nome de "Baby". Isso o hipnotiza, como se ela o chamasse (e o filme, incrivelmente, revela um clima cálido).
(O mesmo é com Baby, pois também há uma música cuja letra tem "Debora").
E falando do ponto de vista narrativo, ele funciona, por mais convencional que seja. Os conflitos que envolvem a "última missão" de Baby ou sua vontade de sair da vida como "motorista criminoso", se desenvolvem de forma orgânica, sem que apareça algum problema de roteiro. Até mesmo os demais personagens possuem um desenvolvimento normal - exceto Baby, que apesar de ser um motorista misterioso e calado, precisava de um pouco mais de cuidado no que diz respeito ao seu desenvolvimento (até mesmo o "piloto de fuga" de Drive tem uma certa evolução em seu personagem).
Em suma, não há tanta coisa para ser dita sobre Em Ritmo de Fuga. É um filme que apesar de ser muito bom, não merece tantas palavras. O que pode ser dito, para concluir, é que por causa das características técnicas e estéticas postas pelo diretor, o longa conseguiu ser original e convencional ao mesmo, e desse modo, pôde respirar uma certa jovialidade - isto é claro, graças à direção prodigiosa de Edgar Wright, que mesmo jovem mostra tanto talento atrás das câmeras.
Obs: assistam este filme em inglês para não perder alguns trocadilhos.
Sobre o Autor:

Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspiração o crítico Roger Ebert e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.
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