- Leandro A. de Sousa
Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra (2017)

Direção
Matt Reeves
Roteiro
Mark Bomback & Matt Reeves
Elenco
Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn, Karin Konoval, Terry Notary, Amiah Miller, Judy Greer, Michael Adamthwaite, Aleks Paunovic, Ty Olsson, Devyn Dalton, Max Lloyd-Jones, Alessandro Juliani, Gabriel Chavarria, Toby Kebbell, Sara Canning e Rhys Williams.
Data de Lançamento
03 de Agosto de 2017 (Brasil)
04 de Agosto de 2017 (Exterior)
Nome Original
War for the Planet of the Apes
Nota
⭐⭐⭐⭐

"Todo bom filme é também um documento de sua época" disse Éric Rohmer.
Se voltarmos para 1968 quando foi lançado o primeiro filme baseado no romance de Pierre Boulle, "Planeta dos Macacos", vemos que o filme, apesar de ser uma ficção, se mantém fiel aos fatos daquele época - mesmo que de forma simbólica -, onde devido a Guerra Fria, a tensão mundial era imensa e nós humanos podíamos nos destruir a qualquer instante. Vemos no filme os macacos acusando o ser humano de ser perverso e maligno a todo momento, e por isso precisava ser exterminado (além claro, do final clássico que todos conhecem).
Quase 50 anos depois, vivemos novamente um momento de tensão mundial, sendo assim, nada melhor do que o Cinema para retratar essa tensão, lançando dessa forma o terceiro e último filme do remake que começou em 2011: Planeta dos Macacos: A Guerra.
Não sou um grande fã de remakes/reboots por motivos óbvios, afinal, a cada 10 que são feitos, 9 são uma porcaria. Daquele 1 bom, temos gratas surpresas como Mad Max: Estrada da Fúria, Os Infiltrados de Martin Scorsese e a nova trilogia de Planeta dos Macacos, que não só seus 2 primeiros filmes, como seu último, o qual estou prestes a comentar, são de uma qualidade inquestionável para um remake.
No novo longa, acompanhamos os eventos posteriores aos do final de O Confronto, onde agora humanos e macacos, à beira da extinção, estão em guerra. César - brilhantemente interpretado por Andy Serkis - lidera os macacos com o intuito de acabar com o combate para que novamente humanos e macacos possam viver em Paz.
A direção é do talentoso Matt Reeves, responsável pelo excelente Cloverfield - Monstro e pelo remake americano de Deixe-me Entrar (que também é bom, todavia, desnecessário). Reeves, assim como fez no segundo filme da trilogia, se mostra competente em demonstrar toda a tensão vivida em um ambiente que antes era dominado somente por humanos. Por isso, somos diretamente introduzidos em uma batalha.
Com os vários usos de planos fechados nos rostos dos macacos, Reeves a todo momento faz questão de nos mostrar a perfeição com o qual é feito o Motion Capture, que apesar disso, de nada serviria se não tivesse um ator ali atrás. Serkis confere a César o peso que o símio carrega por estar à frente dos macacos ao mesmo tempo que está desgastado por toda aquela luta. A tecnologia torna totalmente crível e palpável a existência dos macacos, além de ser possível acreditar nos sentimentos que eles passam através de suas expressões faciais, coisa que não poderia ser feita com máscaras, como no original, ou com macacos reais.
No primeiro ato, vemos que já se passaram 2 anos desde os eventos do segundo filme e a guerra está a todo vapor. O roteiro opta por não nos mostrar o começo desse embate entre humanos e macacos, tornando assim, a interação entre público e filme mais dinâmica, afinal, já sabíamos que a guerra iria começar, pois o final do segundo filme deixou isso mais do que claro.
Cria-se um conflito e uma motivação ainda maior do que a paz para que se justificasse a ida de César atrás daqueles que mataram tantos macacos: Vingança. Em um dos momentos mais intensos e emocionantes do filme, o personagem de Woody Harrelson invade a base de César e mata seu filho e esposa, criando assim, a motivação que conduziria toda a narrativa. Além de ir atrás de um propósito muito bem definido pelo roteiro, ele parte para um jornada de autoconhecimento, descobrindo quão próximo pode ser daqueles que julga ser superior.
O que torna esse longa ainda mais interessante do que seus anteriores é o fato de que César, apesar de ser um macaco, possui uma série de conflitos internos, dando uma personalidade complexa e multidimensional ao personagem. Todos esses conflitos ainda ficam bem ilustrados quando vemos que César é assombrado por Koba (Kebbel), macaco responsável pelo começo da guerra. É de se notar a preocupação por parte do protagonista de se tornar Koba através de suas ações.
Em várias situações nos filmes anteriores, ficava clara a vontade do roteiro de mostrar uma certa superioridade dos símios - ou um começo desta - perante os humanos (tanto que, ironicamente, não era difícil que nos pegássemos torcendo pelos macacos ao invés dos humanos). Já nesse terceiro, o objetivo de César faz com que ele se demonstre parecido com o Coronel (Harrelson) em certos aspectos e claro, com Koba.
Harrelson dá ao coronel uma personalidade paranoica e agressiva, ele é fiel aos seus princípios e suas motivações são totalmente plausíveis. Assim como César, ele quer salvar sua espécie, mesmo que os meios para isso sejam abomináveis. Aliás, ele é o personagem que mais conversa com a realidade. Um de seus objetivos é construir um muro (lembra alguém?) para se proteger dentro dele contra aqueles que o querem matar devido à várias decisões questionáveis do mesmo. Além disso, o filme demonstra uma crítica a cultura escravocrata, quando vemos um gorila, que se voltou contra os macacos e serve ao exército humano, chicoteando um orangotango, pois para a construção desse muro, os macacos são escravizados.
E a relação entre Vilão e protagonista é de fato interessante. Apesar de momentos com diálogos puramente expositivos e alguns até sofríveis, como quando o Coronel explica para César todos os seus planos (lembra quando o gelado em Os Incríveis ficou zoando vilões por causa disso? Pois é), o que torna essa relação interessante é de fato o respeito apresentado por parte do Coronel em relação aos seus inimigos. Há um momento no qual ele afirma que é destino dos macacos substituir a humanidade como espécie dominante, e que não adiantava lutar contra a natureza. No final do terceiro ato, o que o Coronel diz toma um sentido literal, quando uma avalanche salva o restante dos macacos que estavam prestes a serem mortos por um exército de humanos.
Fãs da saga clássica perceberão as várias homenagens que o filme se propõe a fazer, desde frames ao longo do filme - como César andando a cavalo em uma praia com outros macacos - até referências mais óbvias - como a garotinha muda (Miller) que Maurice (Konoval) resgata e que a nomeia como "Nova".
Aliás, é de se notar como o filme consegue dar algumas explicações lógicas para acontecimentos que na saga clássica não ficaram muito claros, como o motivo da humanidade ter perdido sua capacidade de fala, sendo que evitar isso é uma das maiores motivações do personagem de Harrelson. E isso ainda nos proporciona um dos momentos de tensão máxima da projeção, que consegue uma resolução para os conflitos de César, que foi tão longe por vingança e estava prestes a cumprir seu objetivo, mas percebe que se puxasse o gatilho não seria diferente de qualquer humano ou de Koba.
É preciso tecer alguns elogios a interação de grupo que o filme proporciona entre os quatro que se formam logo no começo da narrativa. Uma interação divertida e emocionante em certos pontos, onde também é introduzido um excelente alívio cômico ilustrado por Macaco Mau (Zahn), que além de possuir um bom timing cômico, é um personagem que exibe uma certa complexidade, mas que infelizmente o roteiro deixa de lado o motivo que o levou a seguir César até a base inimiga. Uma pena.
Empolgante e emocionante até o último segundo, Planeta dos Macacos: A Guerra justifica seu subtítulo nos mostrando como uma guerra interna nos personagens, pode ser tão interessante quanto um grande conflito armado. Consegue fechar com chave de ouro a trilogia, fazendo não só que o remake entre para um grupo muito seleto, como também se torne uma das melhores trilogias do século XXI, apresentando personagens profundos com tramas bem feitas. Não espero que todos os remakes/reboots que estão por vir terão a mesma qualidade desse (infelizmente), mas ao menos já sabemos que é possível fazê-los, e muito bem feitos.
Obs: O 3D, como de costume, é totalmente dispensável.
Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Adora estudar sobre montagem, fotografia e mixagem de som, mas tem dificuldades de passar isso para um texto por medo de falar bobagem. Ainda explorando essa incrível sétima arte, mas tem uma ligação mais forte com as séries de TV. Aspirante a Crítico de Cinema e a escritor de Livros que provavelmente só vão ser conhecidos por seus amigos e familiares. Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor.
Twitter: _leandro_sa
Instagram: leandro.as
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