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  • Leandro A. de Sousa

Crítica | Patti Cake$ (2017)


Direção e Roteiro

Geremy Jasper

Elenco

Danielle Macdonald, siddharth dhananjay, Bridget Everett, Mamoudou Athie, Cathy Moriarty, McCaul Lombardi, Wass Stevens, Nick Sandow, Anthony Ramos e John Sharian

Data de Lançamento

09 de Novembro de 2017 (Brasil)

18 de Agosto de 2017 (Exterior)

Nota

⭐⭐⭐
 

Há uma cena em Patti Cake$ onde Patricia (Macdonald) - também conhecida como "Killa P"; também conhecida como "Patti Cake$"; também conhecida como... bom vamos parar por aqui - e seu amigo Jheri (dhananjay) estão conversando em cima de um carro e então começam a fazer rimas. É possível sentir a força delas através das palavras de Patricia, que acentua em suas letras como ela e seu amigo serão famosos e como irão dominar o mundo através da fama e do dinheiro cantando Rap. A confiança da personagem, mesmo diante de todas as adversidades que sofre, é uma das características centrais do longa. Todos esses obstáculos - que vão desde uma mãe frustrada e alcoólatra (Everett), até o peso da garota, onde em certos momentos a mesma se demonstra insegura diante desse fato - são apresentados em um primeiro ato competente, que em seus primeiros minutos já apresenta a motivação da personagem título, que é aspirante à cantora de Rap.

Patti é uma sonhadora. Ainda no início, em uma introdução onírica, vemos uma túnel, que os personagens chamam  de "Gates of Hell" (Portão do Inferno), e entrando nele - com uma fotografia em tons verdes, representando talvez, o dinheiro que o mundo da música pode proporcionar, reforçado ainda pelas figuras de pirâmides semelhantes a que vemos nas notas de Dólar - conhecemos O-Z (Ngaujah), o rapper favorito da garota e mentor dela, segundo a própria. Voltando nesse sonho, ao longo da narrativa (3 ou 4 vezes), o roteiro parece duvidar da capacidade de seu público de lembrar dele ou de entender seu significado. O problema é que o gênero apresentado já foi explorado antes, logo, qualquer dúvida sobre a natureza da protagonista logo é descartada. As motivações são simples e sempre bem trabalhadas.

Todavia, a força de Patti Cake$ reside em seu drama familiar, que com personagens fáceis de nos identificarmos, a trama acaba por evocar empatia em seus espectadores que conseguem reconhecer as situações apresentadas, mesmo se perdendo através do um segundo ato irregular, com piadas desnecessárias e clichês do gênero; ainda assim, Patti Cake$ possui algo que é difícil encontrar em alguns filmes atuais, onde quase todos os seus personagens possuem conflitos internos e personalidades multidimensionais, os tornando complexos e dando uma importância singular a cada um deles. Apesar disso, a projeção perde a oportunidade de desenvolver melhor personagens como o próprio Jheri, que mesmo sendo alguém importante para a evolução da protagonista, muitas vezes o roteiro o reduz a um simples alívio cômico.

Em seu tema principal, o filme possui elementos que chamam nossa atenção, como a própria trilha sonora, que vão desde músicas extradiegéticas cantadas pelos próprios personagens, até a trilha sonora incidental. As músicas são agressivas e contagiantes (nesse momento estou repetindo o refrão de "PBNJ", primeira música gravada pelo grupo de Patrícia, em um dos momentos mais hilários do longa). O problema é como a trama familiar ofusca o tema principal, da caminhada ao topo de Patricia e seus amigos, acabando por deixá-lo menos interessante. Desse modo, não temos cenas incríveis relacionadas à batalhas de rimas que nos faz querer levantar da cadeira para bater palmas para o personagem, como aquela do final de 8 Mile - Rua das Ilusões, onde Eminem em suas rimas revela todos os seus podres antes que seu adversário pudesse fazer, deixando este último mudo. Mas, para dizer que o filme não nos proporciona uma intensa batalha de rimas, há uma cena onde em uma, o vigor de Patricia é reforçado, quando um rapaz faz rimas relacionadas ao seu peso, e ela se vinga de forma magistral, fazendo com que ele revide de forma física, somente para corroborar o sentimento de humilhação do mesmo. Isso ainda nos faz entender o tipo de empoderamento que o filme quer passar, pois Patricia é uma das únicas mulheres que vemos cantando Rap, e isso fica ainda mais claro quando ela encontra uma DJ em um Bar Mitzvar, interpretada por Lana Michele (também conhecida como MC Lyte) que dá a entender que já foi muito famosa, mas agora está reduzida a fazer shows em Bar Mitzvars, deixando claro que o mundo do Rap é cruel. Quando vemos Patricia na casa de O-Z, na cena onde a garota tenta demonstrar seu talento ao rapper, sendo humilhada por ele, tudo isso fica nítido.

Fotografado por Federico Cesca, muitas vezes as cores em tela podem soar óbvias, como a cena onde Patti e Jheri em uma padaria, Patti olha para um rapaz na cozinha amassando um pão, então temos luzes vermelhas, indicando uma paixão recorrente da garota. Mas ela nos impressiona em cenas como aquela no barraco de Basterd (Athie), onde mesmo com a fotografia escurecida, temos um ambiente convidativo, animado pelos que estão ali em busca de um sonho. Basterd, que aliás é um personagem que parece querer ter alguma complexidade, mas não é beneficiado pelo roteiro. Vemos características únicas no rapaz, como a lente azul em seu olho direito, fingindo uma heterocromia, além dos piercings revelando um estilo rebelde, óbvio para o que o personagem se propõe; e alguns detalhes que nos revelam sobre o seu passado, como sua perna meio torta, provavelmente devido a algum acidente sofrido na infância. Quando Patti e ele se relacionam, há uma verdadeira química entre ambos, apesar de ser sofrível o fato de após isso, ele voltar a morar com o pai e mudar seu visual para algo mais "normal" abandonando seu estilo anárquico, como se tudo o que ele precisasse, fosse amor. 

É interessante perceber a real natureza de Patti Cake$. Em uma cena, no leito de hospital de sua avó (Moriarty), Patricia a ouve enquanto ela diz que a garota é sim alguém. A cena é pura, e ressalta o clima agridoce do longa e nos resume toda a mensagem que a obra quer passar. E a Avó da garota, que ao mesmo tempo em que consegue ser um alívio cômico, também é o grande suporte de Patti, substituindo sua mãe, uma mulher frustrada, e mesmo que tenha um certo carinho pela filha, não vê futuro no que a garota quer fazer, enquanto sua vó, é uma das grandes protagonistas da cena na qual eles gravam sua primeira música.

E apesar de Patti Cake$ encerrar sua estória de uma forma óbvia e preguiçosa, com uma reconciliação entre Patricia e sua mãe, e com o grupo dela perdendo a competição de talentos (o mais novo clichê do gênero, onde, ao invés de ganhar a competição o grupo perde) o filme consegue divertir e emocionar aqueles que se identificam com seu personagens e suas estórias. Provavelmente você vá esquecer dele na semana seguinte, mas eu duvido que esqueça o refrão cantado pela Avó de Patricia.

"PBNJ, P-BNJ, PBNJ, P-BNJ..."

Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Ama estudar o Cinema em todos os seus aspectos. Sabe que ainda tem muito o que aprender, tanto no que diz respeito à Sétima Arte quanto à escrita, tendo como principal inspiração nessas áreas o grande Roger Ebert. Aspirante a Crítico e Diretor/Roteirista de filmes de baixo orçamento (perceba como ele tem vontade de passar fome). Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor.

Twitter: _leandro_sa

Instagram: leandro.as

#PattiCake #FestivaldoRio2017

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