- Matheus P. Oliveira
Crítica | Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe (2017)

Direção
Noah Baumbach
Roteiro
Noah Baumbach
Elenco
Adam Sandler, Ben Stiller, Elizabeth Marvel, Dustin Hoffman, Emma Thompson, Grace van Patten
Data de Lançamento
2 de Novembro de 2017 (Brasil)
4 de Agosto de 2017 (Exterior)
Nome Original
The Meyerowitz
Nota
⭐⭐⭐

Filmes onde vemos o reencontro de familiares que há muito não se reuniam são, geralmente, agradáveis de se assistir e, de certa maneira, comoventes, pois sempre trazem boas energias, e há sempre um público para vê-los; achar a química perfeita para gerar uma real comoção nesse público, é outra questão. Este é o caso de Os Meyerowitz, e a tal química perfeita nele, não existe.
Os Meyerowitz é um bom filme, funciona dinamicamente como uma comédia discreta e um drama familiar, mas não é novidade e possui alguns deslizes; o Adam Sandler, por exemplo, que foi guardado a sete chaves como a grande promessa do longa, possui uma atuação, digamos, "já imaginada" (infinitamente melhor, é claro, do que seus trabalhos em Eu os Declaro Marido e… Larry e Zohan - Um Agente Bom de Corte; mas proporcionalmente inferior se comparado aos longas Embriagados de Amor e Reine Sobre Mim).
No que diz respeito ao humor em Meyerowitz, temos nele um certo descontrole e certas inadequações quanto à colocação do humor em seus devidos lugares - dá para sentir, às vezes, constrangimento em ouvir certas gracinhas fora de hora. Há também os trejeitos exagerados de alguns personagens em momentos, também inadequados, que lhe entregam os tais deslizes. Um exemplo: pessoa A explica um assunto para as pessoas B, C e D; no meio da explicação, B ao ouvir algo absurdo, solta um riso de escárnio que no contexto da cena, além de soar desnecessário, a torna inteiramente galhofa. Mas nem tudo nele é ruim, e o início do segundo parágrafo já deixa isto claro.
Noah Baumback (o diretor do longa) parece respirar as relações humanas em suas obras, o que para ele é de suma importância. Anteriormente esteve envolvido em bons filmes, e alguns deles são o espetacular A Lula e a Baleia (que foi indicado ao Óscar de melhor Roteiro Original), Frances Ha (um dos ótimos longas do Movimento Mumblecore), e sua assinatura no roteiro de A Vida Aquática de Steve Zissou, junto de seu parceiro de escrita e amigo Wes Anderson (sujeito que dirigiu este último).
Aliás, Noah Baumbach, além de respirar as relações humanas em Os Meyerowitz, parece respirar, na mesma proporção, uma obra específica de Wes Anderson: Os Excêntricos Tenenbaums. Não só na trama que envolve um drama familiar entre um pai e seus filhos, mas também em estilo, isto é, no modo como algumas cenas são montadas com agilidade, como poucos diálogos sintetizam uma situação ou como os personagens são filmados de perfil enquanto correm atrás de algo que necessitam (semelhante a uma das sequências finais de A Viagem para Darjeeling). Assim, Baumbach não esconde sua forte influência no trabalho de Wes Anderson, detalhe que, no entanto, torna Os Meyerowitz quase uma cópia de Os Excêntricos Tenenbaums, e a sensação do tipo "já vimos algo assim", dessa maneira, diminui sua qualidade como obra.
O fato de ser quase "cópia" (isso mesmo, com aspas em "cópia") é porque de 3 características de Wes Anderson, apenas uma se diferencia em Os Meyerowitz, e toma um rumo próprio - esta é a Estética (pois não há aquela miscelânea de cores que fazem O Fantástico Sr. Raposo, Moonrise Kingdom ou O Grande Hotel Budapeste parecerem belas pinturas - o que de fato, para ele, era até bom não ter). E é por isso que Os Meyerowitz é quase "cópia", com as aspas; só que ao mesmo tempo, não o comparar a Os Excêntricos Tenenbaums se torna uma tarefa difícil. Muitos detalhes são parecidos, e chamá-lo de cópia torna-se, aos poucos, uma tentação.
Já as 2 características - Trama e Estilo - são as que se assemelham.
A estrutura da Trama, se vermos por fora, é a mesma de Os Excêntricos Tenenbaums, mas os elementos que existem em sua "infraestrutura" diferem-se. Em Os Meyerowitz, temos três irmãos cujas vidas e aspirações são diferentes - com exceção de um que se diverge radicalmente. São eles: Mattew (Stiller), um empresário; Jean (Marvel), fotógrafa; e Danny (Sandler), desempregado. Todos os três, com a intenção de promover o trabalho do pai, resolvem encontrá-lole se chama Harold Meyerowitz (Hoffman) e é um escultor aposentado. No entanto, neste encontro, notamos quão diferentes todos são, os rumos que cada um tomou e o que cada um carrega como semelhança do pai. E como foi dito antes, o drama familiar neste filme não é novo; suas nuances, talvez.
De início já lidamos com uma família possuidora de fortes tendências artísticas, pois ao vermos a filha de Danny, Eliza (Patten), se tornando cineasta, percebemos a longevidade do eco de seu avô artista, Harold; o contrário é Mattew, que tomou um rumo totalmente diferente, tornando-se um empresário de sucesso. E é interessante notar que este fato remete à típica frase de que "arte não dá dinheiro"; assim, ao passo em que quase toda a família Meyerowitz vive disso, surge para nós como uma luz uma das mensagens fundamentais do filme: as pessoas precisam fazer o que gostam, e não pelo dinheiro, mas pelo simples gosto de fazer e de desejarem reconhecimento por isso. Assim, novamente no caminho oposto, temos Mattew, que simplesmente não seguiu a carreira artística, mas que curiosamente viveu mais tempo ao lado do pai do que Danny (este que viveu apenas um ano com Harold, mas acabou ficando desempregado).
Apesar disso, temos uma personagem problemática, que é a irmã: Jean Meyerowitz, que possui um arco fraco, e Noah Baumbach, por isso, fez questão de criar uma "pequena e isolada trama" envolvendo Jean pequena sendo "surpreendida" por um pervertido. Esta história, no caso, é contada pela própria Jean e é direcionada aos seus irmãos, Danny e Mattew.
Só que Jean é dotada de uma personalidade introvertida (reservada e calada) e isto é claramente o reflexo do polêmico evento por ela relatado. E por isso, a tal "mini trama", vista por este prisma, não chega a ser exatamente um defeito do longa; no entanto, após mais de uma hora de filme, para que desenvolvê-la só agora enquanto as outras frutas já caíram da árvore?
E isto me faz chegar no Estilo de Os Meyerowitz.
O estilo que Baumbach emprega em seu filme é interessante, e lembra (novamente) o dinamismo de Os Excêntricos Tenenbaums, que mistura diálogos e ações de personagens (como por exemplo, os três irmãos, todos com blocos de folhas nas mãos, anotando o que uma médica diz) de uma maneira que sintetiza trejeitos e caricaturas, e insere uma simetria idealizada. Porém, é apenas Wes Anderson que parece fazer isto com naturalidade, e apesar de funcionar em Os Meyerowitz, um certo nível orgânico entre os elementos acaba faltando. É uma obra que suga aspectos genéricos de obras genéricas, detalhe que a torna, obviamente, genérica. Talvez seja o aspecto burlesco dos longas de Wes Anderson que lhe entregam esta vantagem. Ele possui um estilo, essa é a verdade. Suas obras parecem, essencialmente, fábulas infantis.
Já a forma como Baumbach dirige os atores - Adam Sandler especificamente - é mais interessante e, talvez, um dos pontos altos do filme. Sandler, em seu personagem, introduz os semelhantes picos de humor de seu personagem Barry de Embriagados de Amor; mas não tão radical nem natural quanto ele (P. T. Anderson soube equilibrar melhor estes aspectos). Danny é a mistura de alguém que quer ser um bom pai, que se importa com a filha (e não é "careta" perto dela) e tenta ajudar o pai ao máximo. Porém, Sandler não demonstra todo o seu provável potencial.
Ainda assim, é justo notar a bela química entre Harold e Danny como pai e filho enquanto conversam na rua ou enquanto assistem a um filme na televisão (e só para registrar: em um deles, Robert Redford aparece em tela, talvez representando uma referência a Todos os Homens do Presidente, filme onde Redford e Hoffman atuaram juntos). Há, porém, dúvidas sobre esta referência; sobre a química de pai e filho, não.
Os Meyerowitz, quando estreou no Festival de Cannes, gerou assuntos que não couberam numa simples pauta. Da surpreendente e arriscada produção de Scott Rudin (produtor de alguns filmes dos irmãos Coen, David Fincher, P. T. Anderson, e do próprio Noah Baumbach) até as reações positivas sobre a atuação de Adam Sandler, renderam dezenas e dezenas de matérias; ouve até quem dissesse que Sandler merecia o Óscar (o que, para mim, é um tremendo exagero). Mas apesar de tudo, Os Meyerowitz é um bom filme, mas não chega a ser a obra-prima que muitos vieram promovendo.
Sobre o Autor:

Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspirações os críticos Roger Ebert e Pablo Villaça e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.
Twitter: mathp_oliveira
Instagram: mathp_oliveira