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  • Leandro A. de Sousa

Crítica | Liga da Justiça (2017)


Direção

Zack Snyder

Roteiro

Chris Terrio & Joss Wheedon

Elenco

Ben Affleck, Gal Gadot, Ezra Miller, Ray Fisher, Jason Momoa, Henry Cavill, Ciarán Hinds, Jeremy Irons, Amy Adams, Diane Lane, J.K Simmons, Connie Nielsen, Amber Heard & Joe Morton.

Data de Lançamento

15 de Novembro de 2017 (Brasil)

17 de Novembro de 2017 (Exterior)

Nome Original

Justice League

Nota

⭐⭐⭐⭐

 

Em um mundo caótico, nos apoiarmos em figuras que foram criadas como modelos ideais da raça humana, se torna a melhor forma de não nos desprendermos por completo dela ou perdemos totalmente nossa fé. Em nossa infância, os heróis que lemos ou assistimos são a primeira base que encontramos para formar nosso caráter. Dito isso, depois de muitos anos, decidi reassistir Superman (1978); a sensação que tive era a de que tinha 8 anos novamente, e que estava sentado em frente à TV com os olhos esbugalhados vendo o Superman de Christopher Reeve voar em volta do Globo somente para salvar sua amada Lois Lane. Posso dizer o mesmo dos filmes do Homem Morcego, sejam as versões de Tim Burton ou de Christopher Nolan; são filmes que instantaneamente me levam direto para minha infância, e me fazem entender o verdadeiro significado de heroísmo. 

Ao sentar na poltrona do cinema para assistir Liga da Justiça, senti receio, pois os heróis que sempre admirei em minha infância - apesar de nunca ter sido um leitor assíduo de quadrinhos -, estavam prestes a serem elevados a um novo patamar. E se muitos dizem que Zack Snyder errou no tom desses heróis nos filmes anteriores do Universo DC (que só veio ter um real sucesso de crítica e público com o recente Mulher Maravilha), com um Superman (Cavill) que, ao passo em que era desesperançoso não sentia vontade alguma de ser o herói que Jonathan Kent tanto lhe dizia que precisava ser; e um Batman (Affleck) que já estava cansado de sua vida de justiceiro e por isso resolveu quebrar as regras que ele próprio criou; podemos dizer que Snyder estava meramente preparando o terreno para que víssemos as verdadeiras faces dessas figuras. Assim, conseguimos entender como o heroísmo não é algo imutável ou permanente, sequer é algo que nasce conosco. É algo que pode ser adquirido, perdido e recuperado. Liga da Justiça nos mostra o processo de recuperação desse sentimento. 

Se Bruce Wayne em Batman Vs Superman se sentia ameaçado e cansado devido à podridão que assolava Gotham - que o mesmo combateu durante 20 anos -, vemos que em Liga da Justiça ele soa mais otimista, refletindo-se no visual do próprio ator, que abandona aquela barba rala - que em nada combinava com o personagem, e só servia para ilustrar mais ainda esse sentimento de cansaço. Mas muito mais do que a culpa pela morte do Superman, tal otimismo se torna necessário quando a Terra está prestes a sofrer uma invasão por um dos generais de Darkseid: o Lobo da Estepe (Hinds). Que apesar de ser apenas um aglomerado de frases feitas, não passar de uma criatura digital - além de um CGI bem porco - e motivações que o tornam um personagem unidimensional, ele vem apenas como uma necessidade narrativa para a reunião do time (como Loki para os Vingadores), que precisam impedir que o mesmo reúna as caixas maternas (meros Macguffins). O foco está totalmente pousado neles, de nada importa o vilão. Além disso, a forma como eles se reúnem, acaba por se tornar umas das melhores coisas do longa.

A montagem de Richard Pearson confere agilidade ao filme, tornando a reunião do grupo mais orgânica. A apresentação a cada um deles é singular, vamos desvendando de forma rápida todos os seus conflitos e motivações - mas ainda assim, é possível compreender perfeitamente cada um desses elementos. Mesmo para aqueles que nunca pegaram uma HQ na vida para ler, a única novidade nesses personagens serão os atores, já que são figuras intrínsecas na cultura popular, o que descarta a necessidade de um filme de origem para alguns deles (talvez o que mais demande disso seja o Ciborgue [Fisher], que é, em partes, o personagem mais complexo do time, já que sofreu um grande trauma para que pudesse ganhar seus poderes. É um personagem que tem muito a se explorar ainda). Ezra Miller faz do seu Flash um excelente alívio cômico, nos apresentando a nova aposta do universo DC para o clima dos seus filmes. Ao passo em que possui medos e dúvidas sobre seu real papel na equipe, que fica corroborado momentos antes deles enfrentarem O Lobo da Estepe, em uma das grandiosas cenas de ação do filme. 

O que me leva a exaltar a habilidade de Snyder em criar tais sequências - e criticar seus exageros, como o uso exacerbado e até desnecessário das câmeras lentas -, como aquela onde voltamos a ilha de Themyscira e vemos as amazonas defendendo a caixa materna que foi conferida a elas. No caso dessa história, há mais duas: uma que fora dada aos humanos e outra que foi para Atlantis. Este que é lar de Arthur Cury (Momoa) - popularmente conhecido como Aquaman - que vem com a intenção de ser também um alívio cômico, mas se torna a figura badass do grupo, ao mesmo tempo que ainda possui uma certa imaturidade, já que o próprio ainda está descobrindo o seu posto de Rei dos Mares, onde fica claro o contato recente que tem com seu povo de origem. Apesar disso tudo, Aquaman é um personagem que pouco é explorado, dono de muitas cenas empolgantes e hilárias, todavia, isso se deve muito mais ao carisma do próprio Momoa do que ao personagem em si. 

Falar desses personagens em específico, que vem como uma tentativa de ser o centro das piadas do longa, me leva a falar do próprio tom do filme. Por mais que tentasse, nadar contra a corrente se tornou não só perigoso, como também prejudicial para a própria DC/Warner. Em 2008, a Marvel veio e ditou o que seriam os filmes de herói. A popularidade e sucesso de Vingadores quatro anos depois foi algo tão estrondoso, que qualquer coisa fora daquilo seria naturalmente rejeitado tanto pelo público quanto pela crítica. Liga da Justiça ainda possui um tom autoral do próprio Snyder (só é olharmos a abertura, que lembra Watchmen; e as cenas de ação, como elucidei anteriormente), porém, há uma discrepância imensa entre o Batman e o Superman que vimos em O Homem de Aço e Batman Vs Superman e os que vemos nesse novo longa, seja em suas personalidades ou em suas formas de agir. O fanservice que certamente era uma das bases dos filmes anteriores, vem de forma mais sútil, quase muda; as referências presentes no filme se fazem justificáveis, e o clima de equipe é tão bem trabalhado quanto em Vingadores. Vemos os conflitos dentro do próprio time, como Diana (Gadot) confrontando Bruce sobre trazer Superman de volta a vida, além de haver uma certa tensão sexual entre os personagens.

Isso talvez venha do roteiro, que também é assinado por Joss Wheedon que, como sabemos, não só dirigiu os dois filmes da equipe principal da Marvel lançados até o momento, como também assumiu a direção da Liga da Justiça após o afastamento de Snyder devido ao suicídio de sua filha - aliás, senti falta de uma dedicatória a ela nos créditos finais. Mas é muito improvável que tenha sido a mão de Wheedon que clareou a fotografia do filme e nos mostrou os dentes do Superman de Cavill (com direito a uma piadinha muito boa sobre querer estar morto no final). Talvez Snyder soubesse o que estava fazendo desde 2013 quando lançou O Homem de Aço, que trazia esse Superman confuso sobre sua própria existência e cheio de dilemas. Quem sabe, a conversa sobre o Superman estar em desenvolvimento era real.

A volta do personagem no filme não é grandiosa como imaginávamos, ela é mais lógica do que se pensava. Além de ainda vermos o retorno daquele Superman que conhecemos em 78, interpretado por Christopher Reeve - longe de mim querer comparar Cavil e Reeve, afinal, Reeve era o próprio Superman. Um Superman que já aceitava seu papel na sociedade, e reconhecia a necessidade que a humanidade tinha dele. Um Superman capaz de inspirar e trazer esperança.

Ao final da projeção, percebi que estava de volta ao presente, e já não era mais aquela criança que voltava da escola e a primeira coisa que fazia era ligar a TV para assistir a animação da Liga de Bruce Timm; ou aquela que acordava cedo aos sábados para assistir Super Amigos. Eu já era um jovem adulto, mas aqueles heróis me levaram durante duas horas de volta a essa época doce. E a única coisa que posso fazer, é agradecer.

Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Ama estudar o Cinema em todos os seus aspectos. Sabe que ainda tem muito o que aprender, tanto no que diz respeito à Sétima Arte quanto à escrita, tendo como principal inspiração nessas áreas o grande Roger Ebert. Aspirante a Crítico e Diretor/Roteirista de filmes de baixo orçamento (perceba como ele tem vontade de passar fome). Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor.

Twitter: _leandro_sa

Instagram: leandro.as

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