- Matheus P. Oliveira
Crítica | 120 Batimentos Por Minuto (2018)

Direção & Roteiro
Robin Campillo
Elenco
Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz, Ariel Borenstein, Félix Maritaud e Aloïse Sauvage.
Data de Lançamento
4 de Janeiro de 2018 (Brasil)
2017 (Exterior)
Nome Original
120 Battements Par Minute
Nota
⭐⭐⭐⭐

"Depois da AIDS, eu passei a viver a vida intensamente"
Esta simples fala esclarece o conflito interno de alguns personagens em 120 Batimentos Por Minuto (ou BPM) e, consequentemente, justifica o próprio título do filme (o qual ultrapassa a normal frequência cardíaca, localizada entre 50 e 100). Só que o coração dos personagens não bate, literalmente, 120 vezes por minuto. O número, na verdade, refere-se à intensidade com que eles levam a vida. Aqui, cada minuto é uma necessidade, e a essência de cada personagem nos é revelada através dessa urgência, que transforma a vida numa cruel ampulheta.
Muitos pensaram que Robin Campillo havia dirigido um filme estritamente político - e, como era de se esperar, decepcionaram-se. 120 BPM pode ser impactante, necessário e, de certo modo, didático; mas não é apenas político. Ele venceu o Grande Prêmio do Júri no ano passado, e certamente não foi graças ao seu teor político, mas à íntima jornada de nossos protagonistas. Eles são Sean, Nathan, Thibault e Adèle, todos membros de um grupo chamado Act Up-Paris e portadores da AIDS (exceto Nathan, que é soronegativo). A maioria dos elementos mostrados no filme tendem a revelar mais o lado introspectivo do que o lado político dos membros da Act Up-Paris.
Assim, o ponto mais importante nesse filme não é o cotidiano desses ativistas, mas o desejo e o fervor dentro de cada um deles quando vão às ruas protestar. Desse modo, sabendo que os espectadores compreenderiam a mensagem, Campillo, de certa forma, "repetiu" várias cenas para mostrar que os inúmeros debates e protestos realizados pelo Act Up-Paris, apesar de dignos, são extremamente cansativos; daí valorizamos e compreendemos o esforço de cada um deles. Sendo assim, é este cansaço que move os personagens, e a força-motriz de cada um surge a partir de um anseio: a vontade de viver.
120 BPM possui muitos protagonistas, mas o mais importante é Sean, que possui o melhor arco e a melhor atuação do filme. De todos do grupo, ele é o mais alegre e frenético; e isso, no Act Up-Paris, é esperado. É possível notar a complexidade de sua personalidade apenas em seu olhar. Por trás de sua alegria, revelada apenas na coletividade, encontra-se certa tristeza, que se torna menos latente à medida em que a "ampulheta" esvazia-se. Basicamente, Sean é a representação cósmica dos soropositivos, que no fundo da alma, sabem que não viverão para testemunhar o tratamento da AIDS que tanto almejam. Aliás, um deles, com plena conformidade, diz: "Você ainda acha que irá sobreviver?"
Por fora, os membros da Act Up-Paris lutam pelo tratamento da AIDS; por dentro, vivem como estoicos, no sentido de se conformarem com seus próprios destinos. A citação que inicia o texto pertence a Sean, num momento de pura divagação. A cena é possuidora daquela perfeição cinematográfica quase indescritível, pois é recheada da mais pura e triste poesia. Sean, no momento em questão, olha através da janela do trem, e contempla um lago e o céu. Além da citação comentada, ele diz algo a mais: "Eu passei a ver a vida de um modo diferente."
Sendo assim, 120 BPM não é um filme que pretende mostrar apenas os bastidores de um grupo de ativismo. Não, ele é mais profundo. Campillo, com este assunto, apenas estabeleceu o pano de fundo e, dentro dele, construiu vários estudos de personagem; e Sean, no caso, é o mais explorado.
O tempo não para, e esta é a razão das rápidas frequências cardíacas que figuram no título do filme. Mesmo quando nossos protagonistas estão se divertindo, as suas células estão trabalhando, adiando ou adiantando o dia de suas mortes. O diretor quis mostrar isto de forma literal, inserindo elementos oníricos, e obteve sucesso nisso.
Mas nem tudo neste filme são flores, e o que o favorece por algum tempo, logo o prejudica. Alguns personagens encontram o seu fim no 3º ato; e a qualidade do filme, também. Desse modo, recorrer a uma frase do mestre Billy Wilder, não seria má ideia: "Se o 3º ato tem problema, o verdadeiro problema está no 1º ato." E este é o deslize de 120 BPM.
Eu não sei exatamente o que houve. O defeito é palpável, mas é complicado de se explicar. O filme, em seu início, preparava um terreno para uma série de crises existenciais que começariam no 3º ato; mas, de alguma forma, tudo desandou, e tornou-se repetitivo e entediante. O nível de empatia para com os personagens sumia aos poucos, e o final do filme era mais aguardado do que a conclusão do arco de Sean e Nathan. Incontáveis cenas de debates, protestos e sexo talvez destruíram partes da qualidade de 120 BPM; ou, talvez, o excesso de diálogos. Mas tudo, apesar das especulações, ainda é incerto. No fim das contas, esta obra é dona de muitos méritos e poucos (mas nocivos) deméritos. Como foi dito antes, ele é impactante, necessário e didático, mas está longe de ser uma obra perfeita.
Sobre o Autor:
Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspirações os críticos Roger Ebert e Pablo Villaça e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.
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