- Matheus P. Oliveira
Crítica | Touro Ferdinando (2018)

Direção
Carlos Saldanha
Roteiro
Munro Leaf, Robert Lawson, Ron Burch, David Kidd, Don Rhyme, Robert L. Baird, Tim Federle & Brad Copeland
Elenco
John Cena, David Tennant, Anthony Anderson, Gabriel Iglesias, Kate McKinnon, Boris Kodjoe, Miguel Ángel Silvestre, Raúl Esparza, Jerrod Carmichael, Gina Rodriguez, Daveed Diggs, Bobby Cannavale, Sally Phillips, Flula Borg, Karla Martínez
Data de Lançamento
11 de Janeiro de 2018 (Brasil)
11 de Dezembro de 2017 (Exterior)
Nome Original
Ferdinand
Nota
⭐⭐⭐⭐

Já é comum nas animações a desconstrução de certos personagens e de suas respectivas naturezas. Monstros bonzinhos e leões engraçados são exemplos disso. Só que estas quebras de paradigmas não surgem como um mero acaso, mas sim de uma pequena e crucial pergunta: "E se?" Este "e se?" nos trouxe muitas obras, as quais incluem Monstros S.A., Madagascar e, agora, Touro Ferdinando, uma carinhosa e otimista animação dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha (A Era do Gelo 2, A Era do Gelo 3, Rio e Rio 2).
Se eu fosse procurar palavras além de "carinhosa" e "otimista" para descrever Touro Ferdinando, talvez me perderia em palavras inapropriadas, pois estas qualidades é que regem nosso protagonista-título (o Ferdinando); e bastam.
Diferente dos animais de sua espécie, Ferdinando não é um touro valente (e seu fascínio por flores comprova sua distinta natureza, e cria, ao mesmo tempo, contraste com a brutalidade do touro). Enquanto os demais treinam para serem os melhores num torneio, Ferdinando procura fugir de seu suposto destino, que consiste em ser valente ou virar carne num açougue; ele tem como certa a decisão de fugir desses dois caminhos - e nos convence através de seus olhos esbugalhados, que expressam a bondade e o anseio pela liberdade. Ele quer ser um touro diferente.
Aliás, é nisso que consiste a força desta animação: a provação.
Mas Ferdinando não conseguiu adquirir esta força de vontade do nada, sem nenhum incentivo. Ele teve amigos, tanto humanos quanto animais. Começou conquistando a amizade de uma nobre garotinha chamada Nina, e a partir dela fortificou a ideia de ser diferente. O reconhecimento e a aceitação da natureza de Ferdinando por parte de Nina são fatores cruciais na personalidade de ambos; daí o elo entre os dois.
Assim, a bondade contagiante de Ferdinando toma conta dos seus amigos animais (os quais são touros, uma cabra e um trio de ouriços), acabando por mudá-los também. De início nem todos aceitam o que Ferdinando diz; mas depois o levam a sério.
E mesmo diante de todas estas qualidades, Touro Ferdinando sofre de desvios na trama justamente por tratar-se de uma animação. Em muitos momentos, os desvios facilitam a inserção de alívios cômicos (como a dança dos touros e dos cavalos) e dificultam a entrega dos espectadores aos momentos de maior seriedade e poesia. E isso, inclusive, é crônico nas obras da Blue Sky (Robôs e Era do Gelo são exemplos).
Mas apesar desse deslize, Touro Ferdinando não se enfraquece, e continua sendo uma bela e bem-feita animação. Existe, inclusive, uma cena em que nos é mostrado um símbolo de trégua entre Ferdinando e um toureiro conhecido como "El Primero" (e ela qualifica todo o filme): no meio de ambos, encontra-se uma linda rosa que põe fim à rivalidade entre os dois, e retoma a amizade entre Nina e seu amigo touro. Assim, com simplicidade, o filme nos enche de uma boba e, talvez, ingênua esperança. Ferdinando, enfim, prova que é um touro diferente.
Touro Ferdinando é assim, otimista.
Sobre o Autor:
Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspirações os críticos Roger Ebert e Pablo Villaça e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.
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