- Matheus P. Oliveira
Uma Palavrinha #001 | Apocalypse Now (1979)

"Meu filme não é sobre o Vietnã, ele é o Vietnã. É como realmente é, e o realizamos de um jeito muito parecido com os americanos que estavam na guerra. Estávamos na selva, tínhamos acesso a dinheiro demais, a equipamentos demais e, pouco a pouco, perdemos a razão." Pode-se dizer que com estas palavras, expressas por Francis Ford Coppola em plena coletiva de imprensa do Festival de Cannes, se tornou clara a razão da vinda de Apocalypse Now, um dos mais poderosos filmes de guerra de todos os tempos.
Ainda na faculdade de Cinema, o jovem e sonhador Francis Coppola, já abraçava a ideia de adaptar o célebre romance de Joseph Conrad, chamado O Coração das Trevas. No entanto, um de seus professores, em seu ofício de ensinar e desafiar os alunos, disse que outros cineastas já haviam tentado adaptar a obra de Conrad para as telas, mas falharam miseravelmente; Orson Welles era um deles. Dessa maneira, somente após sua formação acadêmica e após seu triunfo com as duas primeiras partes de O Poderoso Chefão é que foi possível cogitar a direção de Apocalypse Now, o famigerado longa que quase foi abandonado.
Aos apreciadores de making-ofs, existe um documentário chamado Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse, dirigido por Eleanor Coppola (esposa de Francis), no qual nos é mostrada a turbulenta produção de Apocalypse Now e as inúmeras dificuldades que Francis enfrentou para planejá-lo e filmá-lo à sua maneira. De certo modo, o caráter árduo e enérgico deste longa, refletiu-se plenamente na trama, na estética e em seus personagens; e sua atmosfera psicodélica, aliás, traduzia o clima e a aura ao redor das filmagens (tudo muito fervoroso e urgente). Os atores e o próprio diretor, em esforço recíproco, construíram e fortificaram a grandeza deste filme através de suas dificuldades quase - vamos dizer assim - claustrofóbicas. O célebre monólogo de Kurtz (Brando) é, pois, o exemplo mais literal dessa claustrofobia.
Profundo, extremamente sensorial e, acima de tudo, vislumbrante, Apocalypse Now esconde sua grandeza sob uma convencional imagem de um filme anti-guerra; mas, ainda assim, deixa à mostra boa parte de sua amplitude. Dito isso, o período nele abordado é o Vietnã, palco de um sangrento e longo conflito. Nele, os soldados americanos não sabem muito o que fazer e, por isso, matam por matar, apenas em nome da Pátria. Há, portanto, um soldado, Capitão Willard (Sheen), que não acredita muito nessas máximas patrióticas, e que mesmo assim recebe a ordem de matar um Coronel que há muito deixou de exercer seu ofício; e seu nome, é Walter Kurtz. Este personagem, como o total oposto da Pátria, é a metáfora que expõe as atitudes inescrupulosas dos oficiais do exército estadunidense; só que ele, sendo o completo oposto, é tão radical e sangrento quanto àqueles que critica ferozmente. Willard, assim, é uma espécie de meio-termo: entende o recado deixado por Kurtz, mas ainda assim executa sua missão, como sendo parte de uma tarefa. A tarefa de sua vida.
Sobre o Autor:

Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspirações os críticos Roger Ebert e Pablo Villaça e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.
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