- Leandro de Sousa
Crítica | Mentes Sombrias (2018)

Direção
Jennifer Yuh Nelson
Roteiro
Alexandra Bracken & Chad Hodge
Elenco
Amandla Stenberg, Harris Dickinson, Patrick Gibson, Skylan Brooks, Mandy Moore, Miya Cech, Gwendoline Christie, Mark O'Brien, Wallace Langham, Golden Brooks, Sammi Rotibi, McCarrie McCausland, Faye Foley, Grace DeAmicis, Logan Siu, Lidya Jewett, William Walker, Bradley
Whitford e Wade Williams
Data de Lançamento
16 de Agosto de 2018 (Brasil)
03 de Agosto de 2018 (Exterior)
Nome Original
The Darkest Minds
Nota
⭐

O Cinema de massa parece estar adoecido. Quando se tornou tão difícil fazer um filme que tenham adolescentes com poderes? Aliás, o cinema com histórias teens já é algo cansativo por si só; talvez Harry Potter tenha sido a última saga a ter trago algo interessante, e, ainda sim, seus últimos capítulos são sofríveis e demandam ou paciência ou cegueira ou amor (muito amor) pela saga. Dito isso, o que esperar de mais um filme feito somente para ganhar dinheiro em cima de criança entre 12 e 15 anos? (Suspiros, apenas suspiros)
Baseado no best-seller homônimo, Mentes Sombrias começa quando uma criança, de forma indiscriminada, parece levar um choque, ficar com os olhos azuis e cair morta. Mas na verdade ela não levou um choque; naquele momento ela havia desenvolvido habilidades telecinéticas, algo que afetaria todas as crianças do mundo, inclusive nossa protagonista, Ruby (Stenberg), que após se apagar da memória de seus pais devido às suas nova habilidades de controle de mentes - algo supostamente raro -, é mandada para um campo de concentração junto de outras crianças. As habilidades delas são divididas de acordo com as cores adquiridas por suas pupilas no momento em que o poder é ativado: Verdes são os mais comuns e significa que o indivíduo adquire uma inteligência acima do normal; Amarelos podem manipular energia elétrica; Azuis, como já dito, têm poderes telecinéticos, podendo mover objetos sólidos com o poder da mente; Laranjas são telepatas poderosos e raros, sendo perigosos demais para serem mantidos vivos, assim como os Vermelhos, que "surpreendentemente", é fogo, e também não podem ser mantidos vivos.
Somente com essa trama, o filme consegue abrir alguns buracos em seu roteiro, o que deixa clara a total falta de cuidado até mesmo com uma história simples. Começando com o fato de que quando Ruby chega ao campo, ela consegue fingir durante 6 (SEIS) anos que é uma verde - agora, como ela conseguiu durante todo esse tempo fingir que entendia conceitos básicos de física atômica, teoria das cordas ou ler partituras é um grande mistério. Bom, Ruby consegue fugir do campo, lógico, e se encontra com outros na mesma situação que ela (lógico), e se notarmos, o filme parece fazer questão de tornar sem sentido o fato de somente os Laranjas e os Vermelhos serem já condenados à morte, já que ao conhecer Liam (Dickinson), fica claro que alguém que pode destruir uma estrada inteira e jogar uma árvore que deve pesar toneladas é tão perigoso quanto estes outros - não cito os amarelos, pois em Pokemón ficou provado que basta uma luva de borracha para isolar eletricidade.
Mas se essas fossem as únicas discrepâncias do longa, este estaria no lucro; o fato é o cansaço sentido enquanto o tempo passa, já que aqui vemos uma história contada somente 1 milhão de vezes no cinema: "ah, adolescentes prodígios correndo de adultos que têm medo de seus poderes e, eventualmente, acabam se apaixonando; como nunca pensamos nisso?". O que torna essa frase ainda mais irônica é quando descobrimos que o estúdio por trás dessa tolice que é Mentes Sombrias é a própria dona Fox, que nos últimos 17 anos só tem pensado nisso. E não é de menos, já que a franquia X-Men, por mais saturada que esteja, já rendeu alguns bons bilhões e, após Logan, seria bom arriscar algo um pouco diferente - bem pouquinho mesmo.
Mas a falta de originalidade, novamente, é o menor dos problemas desse projeto - seria até injusto cobrar algo novo dessa espécie de filme. Mentes Sombrias se desenrola por meio de convenções tão estupidas que acabamos por esquecer o fato de seu roteiro ser previsível e desgastado, e acabamos por focar em sua trama que parece não ter lógica, já que é visível a falta de complexidade dos demais personagens, exceto por Ruby (aliás, notem como a cada dez segundos alguém parece falar o nome da garota; tudo bem que é fácil se esquecer da cena anterior ao longo do filme, mas né).
O filme também se prejudica ao pôr a todo momento alusões, referências e metalinguagens da vida real e outras obras. É impossível ver a cena na qual Ruby faz com que o guarda deixe ela passar de carro sem se lembrar da cena na qual Obi-Wan manipula um Stormtrooper em Uma Nova Esperança, mas se fosse para usar um personagem de Star Wars como base para as habilidades de Ruby, Luke faria muito mais sentido, já que também era um jovem totalmente inseguro de quem era e a qual lugar pertencia - claro que essas referências à clássicos da cultura pop servem para justificar o fato do longa ostentar em seu pôster "dos produtores de Stranger Things...". Quando falamos da vida real, há uma certa tentativa de colocar questões sociais e até mesmo alusões ao nazismo na Segunda Guerra com os campos de concentração aonde as crianças se encontram, mas o roteiro parece apenas querer jogar essa ideias na tela sem tentar desenvolvê-las em nenhum instante, perdendo a chance de trazer uma reflexão que por mais que, novamente, fosse óbvia, seria algo válido. Se for para ver uma alusão ao nazismo e à campos de concentração, além de assistir a um bom filme, veja Ilha dos Cachorros, que ainda está em cartaz.
Não bastasse, seus problemas de narrativa, desenvolvimento de personagem e trama, a trilha sonora parece não querer fazer o básico, que é instruir os sentimentos do público, onde não encontramos em momento nenhum uma música que evoque o mínimo de emoção, deixando a indiferença tomar conta até mesmo em momentos que deveriam arrancar lágrimas fáceis, como os momentos finais do longa.
Parece não haver uma cura, o cinema blockbuster teen está cada vez mais doente. Jogador N°1, ao menos tinha o mérito de ser um filme feito por Spielberg, sendo uma ode a esse Cinema. Mentes Sombrias, por sua vez, chega à níveis tão baixos que soa como uma ofensa, não somente ao Cinema, mas àqueles que sustentam essa indústria.
Sobre o Autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Ama estudar o Cinema em todos os seus aspectos. Sabe que ainda tem muito o que aprender, tanto no que diz respeito à Sétima Arte quanto à escrita, tendo como principal inspiração nessas áreas o grande Roger Ebert. Aspirante a Crítico e Diretor/Roteirista de filmes de baixo orçamento (perceba como ele tem vontade de passar fome). Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor.
Twitter: _leandro_sa
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