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  • Matheus P. Oliveira

Crítica | Mid90s (2018)


Mid90s

Direção e Roteiro

Jonah Hill

Elenco

Sunny Suljic, Katherine Waterston, Lucas Hedges, Na-kel Smith, Olan Prenatt, Gio Galicia, Ryder McLaughlin, Alexa Demie, Fig Camila Abner, Liana Perlich, Ama Elsesser, Judah Estrella Borunda, Mecca Allen, Harmony Korine, Jerrod Carmichael, Jax Malcom, Kasey Elise e Zachary Read

Data de Lançamento

9 de Setembro de 2018 (Exterior)

Nota

⭐⭐⭐
 

Mid90s não é um filme excelente, nem medíocre, nem ruim; é simplesmente um coming-of-age agradável, delicioso de se assistir, com picos de qualidade. É um filme dotado de certa inconstância, mas com momentos tocantes e ponderados, porque sincero, dirigido por um cineasta igualmente inconstante, porque amador, que ainda não domina o seu mais novo ofício: o de cineasta. Ele é Jonah Hill e Mid90s é seu primeiro filme.

Com um olhar nostálgico para os anos 90, Jonah Hill constrói a base de seu primeiro longa, e a constrói com a delicadeza de um artista que sabe que é amador, e que, por isso, tende a ser cuidadoso, mostrando detalhes que são únicos da década (Discmans, skates, etc.) com cautela, como uma espécie de easter-egg. Hill parece não querer chocar, nem exagerar, mas apenas tocar o coração de um público que anseia em testemunhar uma bela história, sem floreios, simples em nuances e delicada esteticamente, porque sabe que o que existe em seu filme é dotado de certa pureza artística, apesar de imperfeita. Dessa maneira, Jonah Hill transmite na direção de seu primeiro filme o que nunca conseguiu transmitir em suas dezenas de atuações, que são, em si, meio rasas, porque o seu lugar é na direção.

A história de Mid90s gira em torno de Stevie (Suljic), um garoto que se torna amigo de uns rapazes mais velhos, que cuidam de uma loja de skate: eles se chamam Ruben, "Fuckshit", Ray e "Fourth Grade" (personagem "meio" interessante que representa uma legião de jovens que pretendiam se tornar cineastas durante os anos 90, no surgimento do cinema independente; “meio”, porque ele não possui a profundidade que merecia), e acabam lhe ensinando involuntariamente a gostar de skate, a ter amizades e a procurar um rumo na vida (função que cabe, na verdade, apenas ao simpático Ray). A partir disso, dessas novas relações, a vida de Stevie, como adolescente, começa a mudar, pois passa a conhecer um mundo diferente do qual sempre foi habituado a viver (a relação abusiva com Ian (Hedges), seu irmão mais velho, e a relação, ainda que afetuosa, mas monótona, com sua mãe Dabney (Waterston)). Mid90s é basicamente isso, simples até mesmo em sua história.

Assim como tudo em seu filme é simples, em Jonah Hill também se encontra essa tão notável simplicidade; e ele realmente parece ser, de fato, simples - como cineasta e (quem sabe) como ser humano. Mas ainda assim é um artista amador. No entanto, é preciso entender o seguinte: seu amadorismo não é um amadorismo nocivo, prejudicial, daqueles que jogam obras inteiras no lixo pelo descuido de um artista desleixado, não deixando se salvar nenhuma parte, e sim aquele amadorismo em que o artista não pretende ousar em nenhum ponto, porque é iniciante e, por isso, cauteloso, e não quer parecer pretensioso ou medíocre, apenas direto, pois tem uma mensagem simples para enviar ao público, e não quer enviá-la em caminhos tortuosos, duvidosos; experimentais. Desse modo, é aceitável dizer que Mid90s é um filme meio "recatado", feito por um cineasta também "recatado" (sim, em aspas), que abraça justamente uma produção mais quieta, direta, menos ousada, com ângulos sóbrios e com estética comedida. O filme, aliás, tem, de forma orgânica, a justificativa de ter todo esse estilo: ele é puramente nostálgico (o uso do formato de tela 3x4 é um dos exemplos), e demanda algo com caráter mais sóbrio, moderado. Todavia, não se trata de uma sobriedade totalmente equilibrada, daquele tipo austero, quase inflexível, e sim aquela que se permite ter “acessos” a uma emoção melhor expressada, mais apaixonada, como a cena contemplativa, primorosamente filmada, dos garotos andando de skate entre duas pistas, com um belo pôr do Sol ao fundo (cena que, inclusive, brinca com a profundidade de campo: enquanto os meninos vêm em direção à câmera, os carros afastam-se dela, indo na direção oposta, criando um aprazível vaivém). Eis a simplicidade de Jonah Hill, alma do seu estilo como diretor.

Mas Mid90s tem lá seus defeitos (presentes apenas no roteiro), e analisado em particular, deixando de lado o “Jonah Hill ator” e o “Jonah Hill diretor”, vemos no “Jonah Hill roteirista” uma tremenda dificuldade em tratar das prioridades dos temas do seu filme e na profundidade de um personagem em específico (a mãe de Stevie, que pouco nos deixa sentir empatia, por causa de sua vazia caracterização). No filme, fala-se sobre três coisas: de sonhos para serem conquistados, de amizades para serem preservadas e de amadurecimento. Jonah Hill, inexperiente, fala sobre as três - e de forma alternada -, chegando a perder o fio da meada num certo ponto, justamente por decorrência dessas inúmeras alternâncias; e, no fim, ao concluir ambos os temas, os conclui de forma incompleta e rasa, porque não sabe para qual dar mais importância. Daí, na conclusão do filme, não resta para nós um profundo ensinamento, nem sequer uma “lição”, porque no fim das contas nem se sabe direito o que é Mid90s; usa-se, então, um elemento esquecido para terminar, de forma convincente (e, ao meu ver, evasiva), uma história com pouco foco com um personagem que teve, ao longo da projeção, foco algum, dando-lhe assim certa "recompensa": Fourth Grade realizando o seu desejo, mostra o filme que fez, compilando cenas com seus amigos (que pertence ao próprio longa do Jonah Hill), cujo título que figura é “Mid90s”, explicando ao espectador, em forma metalinguística, que se trata de um filme dentro de um filme, isto é, o desejo que Jonah Hill sempre teve de ser não apenas um cineasta, mas também de retratar uma época que lhe é significativa, à sua maneira, e com seu próprio estilo. Tal intenção surte efeito, mas até um determinado momento, pois Hill é mais diretor do que roteirista.

Em suma, Jonah Hill é realmente um amador, não porque quer, e sim porque esta é uma condição natural daqueles que começam a fazer algo, sem muita experiência ou habilidade (salvo algumas exceções, que vão de Orson Welles à Quentin Tarantino) - que é seu caso. Só que para Hill, tal característica tem mais cunho limitativo do que prejudicial, pois ele acaba limitando-se para não se equivocar: em certos momentos, Hill poderia elevar um pouco mais o sentimento humano, mas prefere tornar seus personagens contidos, introvertidos, para não transformar seu filme num “dramalhão” esquisito, como a tocante cena em que Ray conversa com Stevie sobre a morte do seu irmão. Sunny Suljic, o ator que faz o protagonista, já demonstra doçura e introspecção sem dificuldade alguma, porque seus olhos já indicam essas características; e Jonah Hill sabe disso.

No fim das contas, o que se salva nisso tudo, nesse mar de imperfeições não tão prejudiciais para o Todo e sim para algumas das Partes, é a delicadeza de Jonah Hill como um exímio artista que é, pois aquela história parece sair do fundo de sua alma, e mesmo que no filme a história não possua tanta profundidade, dá para sentir a intenção de Hill em torná-la profunda. Em outras palavras, é possível apreciar esta obra como algo que ela poderia ser, pois dentro do cineasta, há possivelmente um Mid90s muito mais profundo e eloquente.

Sobre o Autor:

Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspirações os críticos Roger Ebert e Pauline Kael e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.

Twitter: mathp_oliveira

Instagram: mathp_oliveira

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