- Matheus P. Oliveira
Especial | Filmes na prisão
Filmes que se passam em prisões são sempre interessantes para a maioria dos cinéfilos, porque tornam possível a abordagem dos mais variados temas. Outro fator também, bastante fundamental, é uma boa história, que seja capaz de prender o espectador até os créditos finais. Vingança, redenção, e o desejo pela liberdade, são todos valores amplamente explorados em dezenas de filmes que testemunhamos em toda nossa vida cinéfila, e continuamos a testemunhar, porque nunca se esgotam e porque nunca nos deixa enjoados. Há sinceridade, há o assunto humano neles, e o assunto humano é universal e fonte inesgotável de busca. Sendo assim, nestes filmes, o que aparece é isso, a verdade imutável: a prisão como o oposto da liberdade, e qualquer ser humano compreende esta divergência. Por isso esses filmes prendem a todos, pois pegam algo de caráter geral, como a Prisão, e a inserem nos filmes como metáfora para o que a humanidade mais almeja: a conquista da liberdade. Dito isso, abaixo se encontram cinco filmes, de diferentes décadas e gêneros, que abordam tal assunto. Aproveitem.
‘O EXPRESSO DA MEIA-NOITE’ (1978)

Do diretor de Coração Satânico e Pink Floyd The Wall, O Expresso da Meia-Noite é baseado na história real de William Hayes, que foi preso e detido numa prisão turca por portar haxixe enquanto tentava voltar para os Estados Unidos, sua terra natal.
Retirado do livro de autoria do próprio Hayes, cujo nome é o mesmo do filme, O Expresso da Meia-Noite é o que a sua simples sinopse revela: um retrato doloroso das agonias que William Hayes sofreu na prisão de Istambul; é, além disso, um filme bastante expressivo, filmado por um perito não menos expressivo: Michael Seresin, que trabalhou junto de Alan Parker (o diretor) em muitos outros trabalhos.
A sua forma meio ‘crua’, realista e austera de filmar aquele mundo ocidental-oriental, dando close-ups em detalhes que caracterizam o mundo turco, traz um clima sombrio ao longa, e a direção de Alan Parker só o reforça, envolvendo não só o ambiente, mas também os personagens em toda essa obscuridade, criando assim uma obra perturbadora e tenebrosa.
‘FUGINDO DO INFERNO’ (1963)

Pensem em Steve McQueen, montado numa moto, tentando fugir de uma prisão em plena Segunda Guerra Mundial, e testemunhem a memorável sequência de Fugindo do Inferno, exuberante filme de ação dirigido por John Sturges (Sete Homens e Um Destino), baseado no livro The Great Escape.
Eletrizante e feito para que não tiremos os olhos da tela por um segundo sequer, ‘Fugindo do Inferno’ conta a história de um grupo de soldados aliados que tem como objetivo fugir de uma prisão alemã. Tal decisão nasce a partir do momento em que os nazistas decidem fazer um remanejamento nas prisões, com o intuito de evitar futuras fugas. Entre os que desejam fugir estão o americano Virgil Hilts e o britânico Roger Bartlett, respectivamente interpretados pelos astros Steven McQueen e James Garner.
Assim como alguns dos outros filmes de John Sturges, esta é uma obra que também prepara o espectador, durante 172 minutos, para um clímax hipnotizante, inserido numa das mais marcantes sequências do cinema.
‘DAUNBAILÓ’ (1986)

Os que assistiram a Estranhos no Paraíso, Uma Noite Sobre a Terra e Trem Mistério irão simpatizar com o estilo de Daunbailó (pronúncia de ‘Down by Law’), tão próprio do Jim Jarmusch como qualquer um de seus outros filmes.
Estrelado por Tom Waitts, John Lurie e Roberto Benigni, Daunbailó gira em torno de Zack e Jack, que foram presos por crimes que não cometeram. Respectivamente interpretados por Waitts e Lurie, ambos conhecem Roberto (interpretado por Benigni) dentro da prisão, um cômico italiano que mal fala inglês que, apesar de perturbar seus colegas de cela, tem um plano (não tão brilhante) de fuga da prisão. Em suma, o filme não é tão grandioso assim, nem pretende sê-lo, mas é certamente uma obra cômica e agradável, recheada de momentos puros, sendo então uma pequena obra-prima, justamente por não ter a pretensão de ser grandiosa.
Aliás, Jim Jarmusch parece ser um dos cineastas mais despretensiosos do cinema, e esse detalhe, justamente esse detalhe, é que faz com que seus filmes sejam verdadeiras pérolas do cinema - inclusive Daunbailó.
'À ESPERA DE UM MILAGRE' (1999)

Talvez o mais famoso desta lista e não o menos comovente e poderoso é À Espera de Um Milagre, drama dirigido por Frank Darabont, baseado no livro homônimo de Stephen King, que explora uma tocante e inusitada relação entre um carcereiro e um prisioneiro, acusado de ter matado brutalmente duas meninas de nove anos.
Vindo do prestigiado Um Sonho de Liberdade, Darabont produz aqui outra obra-prima, grandiosa em muitos sentidos, inclusive na duração. Por mais de três horas, acompanhamos a interação do carcereiro Paul (interpretado por Tom Hanks) e de seus parceiros com John Coffey, o prisioneiro, de tamanho e força inigualáveis. A partir de um incomum incidente, eles descobrem que Coffey é totalmente diferente do que aparentava ser: simples, ingênuo, tem medo de escuro, e possuidor um dom sobrenatural. No entanto, apenas os guardas daquele recinto sabem disso; os demais, incluindo o resto das autoridades, desconhecem o fato.
Assim, À Espera de um Milagre prepara o espectador para uma cena que já parece inevitável desde o momento em que se conhece Coffey verdadeiramente, e esta cena é que carrega todo o valor dramático do filme inteiro, justamente por trazer algo que não queremos que aconteça.
A propósito, um aviso: quando forem assisti-lo, não se esqueçam de pegar os lenços.
‘INFERNO Nº 17’ (1953)

Este já é mais próximo de Daunbailó do que dos outros três filmes citados, porque é mais ‘cínico’, e porque é dirigido por Billy Wilder. Inferno nº 17 também se passa durante o Período Nazista, igual a Fugindo do Inferno, com a diferença básica de que os dois têm climas absolutamente diferentes. Mordaz e extremamente ágil (tanto em questões de roteiro quanto em questões de estilo e direção), repleto de vaivéns e momentos tragicômicos, Inferno nº 17 é uma típica obra de Billy Wilder.
Outra característica igual a Fugindo do Inferno é a sua sinopse: trata-se também de uma fuga, mas não de caráter épico, porque é bem mais simples, envolvendo bem menos personagens, e localizado em um cenário menor. A história gira em torno de um sargento americano sobrevivente, cínico, que troca favores com os guardas, após ser suspeito de algumas mortes por parte de uns prisioneiros que tentaram fugir de uma prisão.
No início da projeção, quando se explica o que é Stalag 17 (título original do filme), logo se nota de quem é a autoria. É certamente uma ótima dica, ainda mais se tratando de uma obra dirigida por Billy Wilder.
Nome original dos cinco filmes, em ordem de aparição: Midnight Express; The Great Escape; Down By Law; The Green Mile; Stalag 17.