- Matheus P. Oliveira
Crítica | Happy Hour (2019)

Direção
Eduardo Albergaria
Roteiro
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Elenco
Letícia Sabatella, Pablo Echarri, Luciano Cáceres, Chico Diaz e Marcos Winter
Data de Lançamento
28 de Março de 2019 (Brasil)
Desconhecido (Internacional)
Nome Original:
Happy Hour: Verdades e Consequências
Nota
⭐⭐⭐

Crítica | Happy Hour (2019)
É constrangedor quando vemos filmes que tentam se passar por profundos, mas que são, na verdade, mais rasos do que um prato de porcelana. Geralmente, eles nos cativam à maneira de uma obra artística de primeira linha - mas até um certo ponto (e é justamente neste "certo ponto" que reside a diferença entre a obra profunda e a que se tenta passar por profunda). Suas mensagens, que têm como intenção chegar até nós, de fato chegam; o problema, no entanto, é o caráter fragmentado destas mensagens, que chegam, também, vazias de significado. Happy Hour é basicamente isto: vazio no conteúdo e fragmentado na forma, salvo, ao menos, por sua resistência em não revelar sua verdadeira natureza.
Enfeitado por uma história boba, meio delirante, cercado de questões pretensas e pseudo filosóficas que nos lega a sensação de que assistimos a um besteirol em vez de um filme, Happy Hour é aquilo a que posso chamar de "obra temperamental": tem momentos puros, verdadeiramente puros, até que decai a um nível inferior; depois, se transforma num filme piegas e ridículo ao mesmo tempo; enfim, degrada-se por completo, e se transforma em algo que eu nem sequer posso definir em palavras. Sua narrativa, para se iniciar, parte de uma premissa esquisita, meio confusa assim que nos deparamos com sua natureza (pois o próprio diretor apresenta, no palco de sua história, um carnaval de planos confusos, narrações e personagens), para, depois em que a digerimos melhor, perder o sentido completo. Começando de uma forma convencional, típica, Happy Hour apresenta o protagonista (um professor de literatura e frustrado escritor) e o seu background a partir de narrações que agregam conteúdo à narrativa, e não meras exposições - defeito comum em muitos outros filmes, aliás. No entanto, bastante afoito para nos revelar sua natureza, ele já entrega, de bandeja, o seu subtexto, junto à premissa que dará início à narrativa. E o efeito desta empreitada afoita é o seguinte: já molda, em poucos minutos, um típico filme pretensioso, que se apressa em revelar uma profundidade que não possui, só para mostrar ao espectador um exemplo de filme profundo (ilusão que só passa aos desatentos).
Podendo ser um filme que se encaixaria na estirpe de um Woody Allen ou de um Godard, Happy Hour consegue ser pior do que os piores filmes destes dois cineastas. Mas não serei tão injusto assim, porque diante dos defeitos que o cercam, ele tem a qualidade que lhe destaca: é cuidadoso com as aparências. A tela, a que lhe permite "ser" profundo, é rica em detalhes que o fazem parecer profundo. As narrações, por exemplo (e como já foi dito acima), não expõem a narrativa, mas a complementa. O protagonista, que é professor de Literatura, chama-se Horácio, que por sinal, serve de alusão ao próprio poeta Horácio, dono da famosa citação latina Carpe Diem. A citação, não posta aqui por acaso, significa "Aproveite o Dia". Ela, inclusive, tem tudo a ver com a trama e, mais ainda, com o protagonista. Horácio (o do filme), após sequências repetitivas de tentações extraconjugais, decide conversar com sua mulher a respeito de um relacionamento aberto, sugestão que esta reprova; daí a relação entre o personagem e o poeta. Nestes dois exemplos há a definição de um filme cuja mediocridade é velada aos desatentos e aos desconhecedores de uma boa obra cinematográfica, porque tem uma aparência muito bem construída. Não é um filme que se entrega à mediocridade aparente, nem sucumbe a uma narrativa extremamente cerebral; ele fica, na verdade, entre ambos, perto de seus extremos. Só que ainda assim é aparência. Não significa o que ele é realmente, e o personagem, assim como toda a trama e a subtrama (sim, até ela), parecem versões deformadas do que Woody Allen escreveria, por exemplo. E as narrações, apesar de inseridas adequadamente, nada agregam, porque nada neste filme é interessante - nem mesmo o protagonista.
Enquanto terminava de assisti-lo, eu o aprovava e o desaprovava alternadamente, a todo momento, porque não sabia o que sairia dali (a cada momento, uma confusão indecifrável). No seu fim, quando tornou-se possível julgá-lo como um todo, é que me dei conta do besteirol que eu havia acabado de ver. Agradecido e aliviado por ter sobrevivido a esta "bomba cinematográfica", ainda no corredor que me separava da rua, já tinha em mente um veredito. Com um caderno de anotações em mãos, junto de uma caneta azul, tratei de folhear com pressa aquelas folhas brancas, e preenchê-las com a seguinte frase formulada na minha mente, quase escapulindo: "Em suma, Happy Hour é uma obra que, em sua superfície, é meio elegante e meio interessante, meio ousada e meio esquista; contudo, em seu interior, lugar onde a falsidade artística não reina, aparece-nos apenas como o mais puro (e perdoem a expressão) exemplo de "masturbação mental".
Sobre o autor:
Matheus P. Oliveira, 6 de Agosto de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Estuda Jornalismo e Cinema - este último de forma autodidata. Ainda sonha em conhecer por completo o rico universo que o Cinema possui. Atualmente tem como inspirações os críticos Roger Ebert, Pauline Kael e Luiz Carlos Merten e, de forma árdua, tenta unificar ao máximo todas as outras artes em sua mais que amada arte: o Cinema. Quanto ao futuro - não muito distante -, ele pretende dirigir e escrever alguns filmes.
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