- Leandro de Sousa
Crítica | Licorice Pizza (2021)

Direção
Paul Thomas Anderson
Roteiro
Paul Thomas Anderson
Elenco
Alana Haim, Cooper Hoffman, Sean Penn, Tom Waits, Bradley Cooper, Benny Safdie
Data de Lançamento
17 de Fevereiro de 2022 (Brasil)
Nota do Crítico
⭐⭐⭐⭐⭐

Crítica | Licorice Pizza (2021)
O romance juvenil descrito por Paul Thomas Anderson em Licorice Pizza tem como sua principal arma a própria inconstância do tempo que o diretor confere àquele universo. Nesse sentido, há diversas discrepâncias que tornam a atmosfera do filme uma experiência quase lisérgica, principalmente para os protagonistas, Gary Valentine (Cooper Hoffman) e Alana Kand (Alana Haim), dois jovens que apesar de apaixonados encontram na diferença de idade (Gary com 15 anos e Alana com 25 anos) um grande obstáculo que ao longo da projeção eles vão aprendendo a superar. Essa expectativa, para que os dois finalmente fiquem juntos, remete a como o diretor em 1997 guardou dentro das calças de Dirk Diggler o motivo para Boogie Nights ser rodado, afinal, a expectativa para finalmente presenciar o membro fálico de Mark Wahlberg era motivo mais do que suficiente para se prender ao filme. Agora, guardadas as devidas proporções, o diretor repete isso em Licorice Pizza - e não só amadurece a ideia de que ambos em seu devido tempo irão ficar juntos, como também faz isso dentro de um universo onde o tempo parece não passar, ao mesmo tempo em que todos os eventos ocorrem num piscar de olhos. Não importa se passou um dia ou um mês, os dois irão amadurecer como se tivessem passado décadas e, ainda assim, terão todas as inseguranças com relação ao outro como tiveram 24 horas antes.
Assim como em seus filmes anteriores, como no recente Trama Fantasma (2017), PTA traz a Licorice Pizza uma direção mais íntima, nos inserido no mundo daqueles personagens através de câmeras mais fechadas e takes mais longos. Vivemos com intensidade o amor de Alana e Gary, e o diretor consegue trazer esse sentimento para a tela mesmo quando ambos estão separados - o que ocorre diversas vezes, já que o filme com o passar do tempo vai se inflando de personagens coadjuvantes que em dado momento vão sumindo, e que por mais que o diretor não dê uma importância real para esses personagens eles acabam sendo cruciais, principalmente para o desenvolvimento de Alana, que passa a descobrir que por mais que tente se afastar daquele rapaz, eles sempre acabavam se encontrando, e o mesmo, como o pôster do filme já sugere, estava nas mãos da moça.
Gary, aliás, por ser bem jovem em relação a Alana, passa por inúmeros eventos do filme que vão lhe formando o caráter. Enquanto Alana precisa se encontrar como uma mulher de 25 anos com poucas perspectivas, Gary tenta sempre parecer mais velho do que a moça em suas atitudes, seja acendendo um cigarro e fumando ou então montando um negócio de colchões d’água, que foram febre nos anos 70 como o filme deixa bem claro.
Novamente é preciso destacar como o diretor compõe a passagem de tempo do longa. PTA jamais deixa explícito onde estamos - é claro que fica fácil saber que se trata dos anos 70 com cartazes de filmes como 007: Live and Let Die e pronunciamentos do presidente Nixon na TV de uma cafeteria, porém o que chama a atenção nessa forma como Paul esconde o tempo é que não percebemos ele passar para os dois jovens. Havia momento no filme que eu diria “Bom, Garry agora deve estar com 18 enquanto Alana já está perto dos seus 30", e do nada o diretor dava um tapa em minha cara em um diálogo onde os dois reafirmam suas idades, e então percebo que todos aqueles eventos provavelmente ocorreram em intervalo de semanas – ou até mesmo dias.
Gosto de pensar como Paul Thomas Anderson conta a história dos anos 70 através dos olhos de dois jovens que decidiram tocar a vida juntos, mesmo não estando juntos de fato. Gary precisa ser bem sucedido até como uma forma de enfrentar um certo problema que possa ter tido com seu pai, que nunca ou pouco é citado; enquanto Alana, que vem de uma fervorosa educação judia, parece estar ansiosa para finalmente se descobrir, ao mesmo tempo que percebe que o tempo dela está passando. “Tempo” aliás é a palavra-chave para descrever esse longa: PTA pega esse conceito e molda do jeito que acha preferível, dando-nos uma história que caberia no espaço de uma década em apenas alguns dias. A expectativa é recompensada no final. Acredito que no fim o tempo parou para contemplar aqueles dois, e quando no fim eles finalmente puderam ficar juntos, ele pôde finalmente voltar ao seu fluxo normal.