- Leandro de Sousa
Crítica | O Beco do Pesadelo (2021)

Direção
Guillermo Del Toro
Roteiro
Guillermo Del Toro
Elenco
Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collete, Willem Dafoe, Richard Jenkins, Ron Perlman, Mary Steenburgen, David Strathairn, Holt MacCallany, Mark Povinelli,Jim Beaver, Romina Power
Nome Original
Nightmare Alley
Data de Lançamento
20 de Janeiro de 2022 (Brasil)
Nota do Crítico
⭐⭐⭐

Crítica | O Beco do Pesadelo (2021)
Algo que gosto no Cinema de Guillermo Del Toro é como toda a inocência de seus temas ganham um caráter mais brutal em suas mãos. Qualquer conto de fadas pode acabar em um banho de sangue e até mesmo com narrativas mais políticas, como o diretor fez em O Labirinto do Fauno. Em seu último trabalho, A Forma da Água, o diretor nos mostra um conto de fadas, no qual o monstro aquático acaba ganhando o afeto de uma mulher que também conhece as mazelas da vida por ser diferente. É como se nesse desprezo da sociedade os dois se encontrassem.
Em seu mais novo trabalho, O Beco do Pesadelo, Del Toro segue um caminho bem parecido com o desses filmes citados, já que temas como circo e ilusionismo, que aos olhos de muitos pode ser algo divertido e inocente, acaba se tornando base para o diretor contar uma história clássica de ascensão, apogeu e queda. No início, conhecemos Stan Carlisle (Bradley Cooper), um homem com um passado obscuro, que até esse momento não seria errado dizer que era alguém sem história. Ao se destituir de seu passado, "queimá-lo" e buscar um novo rumo, Carlisle descobre uma companhia de circo.
filmes citados no começo do texto Del Toro busca sempre falar de inocência e de humanidade - do seu jeito peculiar -, aqui parece que ele tenta demonstrar a corrupção de ambos os termos. Ao chegar no Circo Carlisle, se depara com a exibição da "Besta", que é apresentada como um "Homem" que tem a incrível habilidade de ficar semanas sem comer e beber, no fim tendo a capacidade de comer uma galinha viva, enquanto o público assisteca eufórico e paga de bom grado por aquele show de horrores.
Del Toro propõe essa abordagem até mais lúdica do que em seus filmes anteriores, o que torna este talvez um de seus filmes mais verossímeis. Ao mesmo tempo em que ele busca uma mística dentro daquele local, é sempre dito que tudo ali não passa de um truque. Com isso, Carlisle é um homem sem expectativa que descobre uma forma de vingar em algo ao ter conhecimento de um truque de adivinhação. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, o filme deixa bem claro que todo truque tem consequências. No caso de Carlisle, um homem sem história, sem perspectiva, que conhecera o pior lado da vida, essa consequência viria justamente do maior feito que ele teria conquistado enquanto estava naquele circo.
Com essa narrativa mais simples, o apogeu de Carlisle ocorre de fato quando ele se apaixona por Molly (Rooney Mara) e resolve largar aquela vida e tentar a sorte na cidade. Isto ocorre logo após ele, sem intenção, cometer um assassinato daquele que teria sido o homem responsável por lhe ensinar o truque que mudaria sua vida. É como se as consequências por essa escolha já aparecessem naquele momento, e o protagonista simplesmente ignora esse aviso.
Pois para um homem que nada teve, o muito nunca é o bastante. E essa ideia seria mais interessante se o diretor a desenvolvesse de forma menos expositiva. Chega um certo ponto do filme em que tudo fica mais claro (é como se Del Toro entregasse a peteca ao expectador). A personagem de Cate Blanchett tem a função bem clara de ser o divisor de águas na nova vida de Carlisle - aliás é praticamente o mesmo papel que ela fez em Não Olhe Para Cima, só que menos caricata aqui. Uma espécie de perdição, que está sempre desafiando-o a conseguir mais e mais, e o homem tem o ímpeto de sempre ir atrás de conseguir novos clientes, enganando-os com o seu charlatanismo puro.
A "besta" que vemos no circo no início do filme é a representação mais fiel de um homem no fundo do poço. O filme se passa durante o início da Segunda Guerra, na qual pessoas estavam assustadas, com medo do que estaria por vir. Carlisle é um homem que durante muito tempo almejou uma vida melhor e não mediu as consequências de seus atos para atingir o que desejava. A total perda da sua humanidade se dá quando o mesmo está encurralado, comete dois assassinatos para tentar escapar, e se nega a enfrentar as consequências. Del Toro deixa isso tão claro ao fim do filme que talvez seja o ponto mais fraco de toda a sua narrativa.
Um homem ou uma besta. Para Carlisle aquele era finalmente o trabalho de sua vida.