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  • Leandro de Sousa

Diário de Quarentena #06 | Fellini em dose dupla

Atualizado: 4 de abr. de 2020


 

Hoje resolvi continuar minha saga para completar a filmografia de Federico Fellini, portanto decidi assistir dois de seus primeiros filmes: Os Boas-Vidas e A Estrada da Vida.



Os Boas-Vidas (1953)

Aqui temos a história de um grupo de cinco rapazes que passam o dia-a-dia por aí em um estado de puro ócio ou em diversões fúteis e bebedeiras, atentando a vida de seus familiares e deles mesmos. O enredo trata de um choque de realidade, quando cada um deles se vê obrigado a arregaçar as mangas e ir atrás de algo melhor - não por escolha, claro. Dentre eles, o principal e o que parece ter um pouco mais de juízo é Moraldo, que é irmão de Sandra, que é engravidada por Fausto, um dos Vida-Boas e o típico galanteador safado, que nem mesmo a responsabilidade da paternidade o faz mudar de postura (algo que já é visto no início do longa quando ele tenta fugir ao descobrir que iria ser pai). Moraldo assume um papel quase paterno para com os outros, sempre cuidando destes e até ajudando-os em algumas de suas tramoias. Tudo isso é evidenciado ao final, após todos amarrarem suas vidas, ele finalmente pode partir e ir atrás de amarrar a sua própria.



A Estrada da Vida (1954)

Eu diria que este é o primeiro grande filme de Fellini, pois traz consigo uma sensibilidade que podemos finalmente entender o caminho pelo qual o diretor iria seguir em sua carreira. Aqui temos a estória de Gelsomina, interpretada pela talentosíssima Giulietta Masina, que é vendida por sua mãe a um artista de rua que tem como truque arrebentar um pedaço de corrente amarrando-o em volta do peito e estufando os pulmões (além, claro, de ser uma pessoa cruel com a pobre Gelsomina). A Estrada da Vida é sensível pois conta uma história de aceitação que é alegre ao passo que é melancólico. Fellini nos diz que a vida jamais pode ser de todo triste, há momentos felizes, mas estes são poucos. Gelsomina vê em Zampanó uma oportunidade de ser aceita pelo mundo e por isso não o larga mesmo em oportunidades de ouro, enquanto este a trata como sua propriedade. E por mais que haja tais oportunidade, para onde ela iria? Como ela iria se encontrar? Ela não tinha outra escolha a não ser seguir aquilo que lhe foi determinado; qualquer desvio era assustador demais. Novamente Fellini usa a arte como base para contar a vida, assim como fizera em seu primeiro longa. Usa a metáfora do palhaço triste, que é acompanhado com a primorosa atuação de Giulietta que usa trejeitos e roupas que deixariam Carlitos morrendo de amores por ela - dito isso, é importante destacar a fundamental inspiração em Chaplin e no personagem para compor essa atuação magnífica. Estrada da Vida se torna ainda mais pessoal quando percebemos que, de certa forma, o público está diretamente introduzido no mundo de Gelsomina.



Até a próxima!





Sobre o autor:

Leandro A. de Sousa, 18 de Maio de 1998, co-fundador e editor do Fala Objetiva. Ama estudar o Cinema em todos os seus aspectos. Sabe que ainda tem muito o que aprender, tanto no que diz respeito à Sétima Arte quanto à escrita, tendo como principal inspiração nessas áreas o grande Roger Ebert. Aspirante a Crítico e Diretor/Roteirista de filmes de baixo orçamento (perceba como ele tem vontade de passar fome). Ama o que faz, mesmo que ninguém partilhe desse amor.


Twitter: _leandro_sa

Instagram: leandro.as

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