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  • Foto do escritorMatheus Oliveira

Top Gun: Maverick e o seu astro, Tom Cruise



Nota: ⭐⭐⭐⭐

 

Top Gun: Maverick é forte, é nostálgico. Já se abre exalando nostalgia. Exala-a quando brotam os créditos iniciais. Exala-a quando toca o tema de fundo, Danger Zone, que os acompanha. Exala-a enfim quando são registrados em serviço em frente ao céu dourado os homens no porta-aviões. Toda uma atmosfera de introdução é evocada a fim de referenciar o clássico de 86, do já falecido Tony Scott.


Mas não só isso. Este novo, Maverick, independe da nostalgia. Quer dizer, depende - até certo ponto. Depende, por ex., quando precisa religar entre o "velho" e o novo o hiato de 36 anos. Daí a abertura fidedigna à do clássico e todo um assentamento de um clima familiar que é prato cheio para os saudosistas, atentos a piscadelas.


E piscadelas não faltam. Em filmes assim, não bastam meras menções àquilo que passou. São necessárias referências sólidas. Daí o mural de fotos mostrando um jovem Maverick junto de seu amigo Goose. O filme de 86 deixou pontas soltas, coisas irresolvidas: como é que ficou a vida de Maverick após tanto tempo? Superou a morte de Goose? Ocorreu entre "Mav" e Iceman algo além do que as ambíguas sugestões insinuavam? "Mav" continua com Charles? Formou uma família? Manteve-se como um às indomável? Algumas questões são respondidas. Outras, não. E no fim das contas pouco importa se foram ou não. A premissa básica pelo menos é certa: continuará a relação até então irresolvida entre "Mav" e a sua culpa pela morte de Groose, pai de Rooster, central neste novo Top Gun.


Mas também isto não importa muito, tendo em vista no que se transformará logo adiante o filme.


Autorismo até certo ponto ausente, até mais ou menos metade da projeção, alça em seguida, como as galantes aeronaves, um voo rasante através do horizonte da cinefilia moderna. Primeira metade da projeção: acerto de contas com o legado de Tony Scott e um desenvolvimento aos solavancos do mórbido romance entre Penny e Maverick. Segunda metade: algo totalmente novo, êxtase puro, extravaso do acúmulo que a morbidez e o acerto de contas causaram, autêntico cinema que só mesmo Tom Cruise é capaz de proporcionar. Sim, até mesmo a essa altura existem as rimas narrativas. Pete Maverick, antes aprendiz, é agora o mentor. Milles Teller, o Rooster, é o Pete de ontem. Glen Powell, o Hangman, o Val Kilmer de ontem. Isto faz parte da magia. E todo o resto antecipa-nos o êxtase-mor: as sequências nos céus. Tudo é muito imersivo, real, bruto. As aeronaves, reais, jamais frutos de CGI, dão autenticidade às batalhas nas nuvens: parece que a qualquer momento acontecerá uma tragédia. Também reais são os voos. Cruise, piloto nato, desenvolveu ele próprio um programa de voo para o elenco. Foram meses e meses de preparação para as filmagens. Disso, enfim, reforço o ponto de antes: não é mera nostalgia, e aqui acaba a dependência para com ela. Top Gun: Maverick é por excelência o Top Gun deste século, não mero filme que louva o do século anterior. É obra atualizada, feita no momento certo (embora o seu desenvolvimento, da concepção da ideia à realização final, remonte a décadas). O drama nostálgico da primeira metade visa apenas unir tribos, trazer os "old timers", isto é, os velhos espectadores do datado Ases Indomáveis. Já a segunda é coisa novíssima, cinema em sua mais apropriada semântica. É direto, imponente, filme cuja plasticidade reflete o próprio cinema moderno.


Tom Cruise tem algo de extraordinário, de primitivo que nos atrai. Em prol do espetáculo, Cruise é capaz de tudo. Há quem diga que há muito tempo, com suas loucuras "keatonianas", ele tenta se matar. É que Cruise é aventureiro, genuíno acrobata. O foi sendo Jack Reacher, Ethan Hunt e o próprio Maverick. Talvez isto tenha a ver com a sua infância de menino solto, período da sua vida repleto de peripécias. "Eu era o garoto que pulava dos telhados", disse Cruise certa vez. Crescera assistindo Chaplin e Buster Keaton, os mestres. Não aprendera menos com eles. Pode-se até dizer que Cruise é um continuador indireto do legado destes (aliás, a sua experiência anterior com Paula Wagner na United Artists o deixa simbolicamente próximo a Chaplin, um dos fundadores do lendário estúdio). "Eles me fizeram rir e eles tinham tensão", disse. Pois graça e tensão é o que sentimos ao assistir aos filmes estrelados por Tom Cruise. De Top Gun: Ases Indomáveis, passando pela franquia Missão Impossível, e chegando a Maverick, Cruise emulara ninguém menos do que os gênios do passado. Sentimo-nos atraído pelo astro porque ele nos põe em estreita sintonia com o berço do Cinema.



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